Título: DINHEIRO PÁRA NA MÃO DE CONSULTORES E BUROCRACIA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 18/04/2005, Economia, p. 17

WASHINGTON. Além de ser pequena, a ajuda dos países ricos para o combate a pobreza fica, em sua maioria, nas mãos de intermediários, alertou ontem o presidente do Bird, James Wolfensohn:

¿ Só cerca de 25% a 30% do dinheiro chegam realmente aos países que precisam. O resto é usado para pagar consultores dos países ricos e outras despesas burocráticas. Assim, dos US$60 bilhões prometidos, apenas de US$15 bilhões aparecem em dinheiro ¿ lamentou.

Após passar dez anos tentando convencer os países ricos a financiar de forma mais generosa o desenvolvimento dos países emergentes, o presidente do Banco Mundial (Bird), fez ontem um apelo direto à imprensa, durante um café da manhã com um pequeno grupo de jornalistas e representantes de organizações governamentais:

¿ Precisamos da ajuda da imprensa para manter a pressão sobre os países industrializados, para que cumpram as suas promessas de ajuda ¿ afirmou ele.

Wolfensohn disse que só agora, uma década depois, começa a haver um reconhecimento de que aquela ajuda é essencial. Mas queixou-se sobre a forma como as contribuições ¿ aquém do que fora prometido ¿ vêm sendo feitas.

O resultado disso é palpável, como demonstrou o informe ¿Indicadores do Desenvolvimento Mundial¿, divulgado ontem pelo Bird. A desnutrição persiste, o número de favelas cresce, e 1,1 bilhão de pessoas padecem de pobreza extrema.

¿ Duzentas mil crianças com menos de cinco anos morrem semanalmente por causa da fome e de doenças endêmicas. Estamos testemunhando uma tsunami semanal ¿ disse o economista-chefe do Bird, François Bourguignon.

Cem milhões de crianças estão sem escolas. Mais de 500 mil mulheres morrem anualmente ao dar à luz, ¿porque são pobres, desnutridas, debilitadas por doenças, expostas à múltiplas gestações¿, dizia o informe.

¿ São dados que compõem um retrato deprimente. O mais importante, porém, é notar que por trás das estatísticas há crianças, há mães, há pais ¿ disse Jean-Louis Sarbib, vice-presidente para Desenvolvimento Humano, do Bird.

Convidada por Wolfensohn para o encontro, Rasheda Chowdhury, da ONG Global Campaign for Education, sugeriu ao presidente do Bird e ao diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, mais rigor com os países ricos:

¿ Eles sempre exigem que os países em desenvolvimento sejam responsáveis e transparentes na contabilidade. Chegou a hora de virar o jogo e exigir que os doadores se comportem da mesma forma. (J.M.P.)