Título: Alvo ecumênico
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 11/04/2005, Panorama Político, p. 2

ROMA. O vôo para o funeral do Papa João Paulo II fez mais do que reunir os presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva, do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, e os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Criou-se um consenso de que é preciso conter os abusos do Ministério Público.

Coube ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, colocar o tema na pauta. Na conversa a bordo, o ministro demonstrou sua preocupação com as repercussões internacionais e com a imagem do Brasil nos mercados financeiros, diante da decisão do procurador-geral da República, Claudio Fonteles, de iniciar investigação sobre lavagem de dinheiro contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Esta iniciativa, concordaram todos, poderá criar incertezas e afetar a confiança que o exterior tem no Brasil, com desdobramentos imprevisíveis para a economia. Foi a senha para que os presentes passassem a disparar suas baterias contra ações polêmicas do Ministério Público.

O presidente Lula foi comedido nas palavras, mas deixou claro aos presentes que está decepcionado com a atuação de Fonteles e com a investigação contra Meirelles. Vários disseram que existia entre os procuradores certa dose de irresponsabilidade. E alguns lembraram que este modelo de atuação foi gestado durante o período em que o PT estava na oposição e alimentava uma aliança denuncista entre os procuradores e a imprensa.

Lá foi dito que o governo do presidente Lula é vítima da ação do Ministério Público como já foi, em passado recente, o governo Fernando Henrique e a família do ex-presidente José Sarney. Outros disseram que a Procuradoria tem se excedido em pedidos de informação sobre deputados e senadores, por conta de denúncias inconsistentes que chegam aos procuradores, mas que mesmo assim são alvo de abertura de investigação. Comentou-se também que a despeito das críticas da oposição, de ontem e de hoje, o governo Lula agiu certo ao proteger Meirelles, dando-lhe status de ministro, como agira certo o governo Fernando Henrique quando fez o mesmo com o advogado-geral da União. Concluíram que seria inimaginável submeter Meirelles ou o ex-advogado-geral e atual ministro do STF, Gilmar Mendes, a juízes de primeira instância.

Por tudo isso, um dos presentes diz que não será surpresa se o Congresso segurar o projeto que trata do teto salarial dos procuradores. E acredita que quando a Procuradoria enviar o texto da Lei Geral do Ministério Público, parlamentares vão propor emendas para limitar a ação dos procuradores, resgatando a proposta da Lei da Mordaça.

Sorte grande

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), levou um penetra para jantar com o presidente Lula, e sua comitiva, na sexta-feira, no Palácio Caetani, residência da embaixadora do Brasil na Santa Sé, Vera Machado. Ele encontrou o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) na rua, em Roma, e o levou para o jantar. Carimbão está no céu. Participou do manjar e ainda teve uma conversa de 25 minutos, a sós, com Lula.

O PRESIDENTE Lula quer que o embaixador Itamar Franco concorra ao governo de Minas Gerais em 2006. Ele pediu ao senador Renan Calheiros para ajudar a convencer Itamar.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Pego pela boca

Animado jantar reuniu na noite de sábado, em Roma, o ex-presidente José Sarney, os presidentes do STF, Nelson Jobim, do Senado, Renan Calheiros, da Câmara, Severino Cavalcanti, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e o embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago. Severino roubou a festa. Quando chegou a entrada de Mercadante, um foie gras, ele lascou: ¿Êta prato burguês danado!¿. Gargalhadas.