Título: `NÃO QUERO MAIS CONDOLÊNCIAS¿
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 10/04/2005, O País, p. 10

Greenhalgh deixa quarentena e quer tocar o mandato

BRASÍLIA. Passados 40 dias do que chama de terremoto que abalou sua vida, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) diz que só agora está saindo da quarentena que se impôs para conseguir atravessar uma das fases mais sombrias de sua carreira política. Para exprimir o sentimento pós-derrota, cantarola trecho de uma música de Chico Buarque (¿Bom conselho¿): ¿Inútil dormir, que a dor não passa¿.

¿ Se começasse a falar por que perdi, dos erros sucessivos do governo, do PT, dos aliados, ia dar um viés muito emocional. Achei melhor ficar quieto. Eu me senti injustiçado, estava preparado para dirigir a Casa. Me senti trocado de forma injusta num processo extremamente doloroso. Não estou completamente refeito, há episódios nebulosos que não consegui decifrar, mas decidi tocar o mandato.

Deixou de sair às ruas e ir a restaurantes para evitar olhares e comentários de piedade. No avião, enfiava a cara no jornal. Convocou a cozinheira, em São Paulo, para trabalhar nos fins de semana porque se recusava a sair de casa.

¿ Primeiro teve a fase das condolências em que a frase padrão era: ¿Você é preparado, não foi derrota pessoal, queriam agredir o governo, vira essa página, ainda é moço¿. Com 57 anos tendo que ouvir isso! Na segunda semana foram tapinhas nas costas e a frase: ¿Eu votei em você¿. Tanta gente falava isso que disse: ¿Não é possível, eu ganhei¿. Quase pedi recontagem dos votos. Na terceira semana foi o arrependimento: ¿Tive uma posição emocional e agora vejo que a instituição pode ser comprometida¿. Agora estou na fase em que me chamam de presidente. Pelo menos agora estou conhecido. Faço questão de chamar a todos pelo nome.

Greenhalgh, embora desolado, diz que está com a consciência tranquila, pois fez o que podia para tentar impedir a derrota:

¿ Fiz tudo que estava ao meu alcance para vencer, até me violentei em alguns momentos, prometi discutir o aumento das verbas para os deputados, me reuni duas horas com a bancada ruralista. Ganhei credibilidade na bancada, no PT e entre meus eleitores. Agora vou tocar meu mandato. Não quero mais condolências.