Título: Autoridades procuram os bens de 20 traficantes brasileiros no Paraguai
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 10/04/2005, O País, p. 4

Ministério da Justiça já tem lista feita pela Embaixada do Brasil em Assunção

PONTA PORÃ (MS). Desde agosto do ano passado autoridades brasileiras e paraguaias estão levantando os bens de aproximadamente 20 grandes traficantes brasileiros radicados no Paraguai. O objetivo é confiscar terras, casas, aviões, carros e contas correntes em nome dos traficantes, parentes ou laranjas.

Uma lista de bens organizada pelo governo paraguaio e pela Embaixada do Brasil em Assunção foi enviada esta semana para o o chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado do Ministério da Justiça, Getúlio Bezerra dos Santos.

A lista é mantida a sete chaves devido ao temor de que os traficantes transfiram os bens para terceiros. Segundo autoridades paraguaias, apenas 20 barões do tráfico possuem mais de US$300 milhões (R$900 milhões) no Paraguai.

Na semana que vem o juiz Odilon de Oliveira, da Justiça Federal em Ponta Porã, começará a pedir o seqüestro dos bens.

¿ Os traficantes impõem seu poder a subalternos e autoridades porque têm dinheiro. Com esta ação esperamos quebrar a espinha dorsal do narcotráfico ¿ disse o juiz.

Festas com autoridades

Cerca de 20 brasileiros comandam o narcotráfico no Paraguai desde meados da década de 1980. Eles tiveram grande ascensão social e hoje fazem parte da elite paraguaia. A maioria mora em mansões, circula em carros importados e promove festas em suas fazendas com a presença de altas autoridades.

Alguns aparecem nas colunas sociais com políticos influentes e magistrados. Nas legendas das fotos são identificados como empresários e benfeitores. É o caso de Odacir Antonio Dametto, preso há dois anos no Paraguai e deportado na sexta-feira para o Brasil. Dametto é o rei da soja do Paraguai.

O GLOBO esteve em uma de suas fazendas próxima à fronteira com o Brasil. São 12 mil hectares de soja e milho. A propriedade tem dezenas de colheitadeiras, avião pulverizador e emprega 300 famílias.

Também é o caso de Jarbas Ximenez Pavão. Embora seja procurado pelas polícias do Brasil e do Paraguai, Pavão é um próspero comerciante da fronteira. Em Pedro Juan Caballero, possui uma distribuidora de cerveja. Além disso, é dono de fazendas e de uma das maiores casas da cidade.

¿Um império econômico¿

Outro traficante brasileiro, Luiz Carlos da Rocha, ofereceu cinco fazendas no valor de US$720 mil (R$2,7 milhões) cada como garantia de um empréstimo feito no Banestado. No pedido de arresto dos bens de Rocha, o juiz federal Odilon de Oliveira afirma que Rocha se ¿instalou na província de Amambay e construiu um verdadeiro império econômico¿. Entre seus bens no Brasil estão duas mansões em Campo Grande, duas fazendas de três mil hectares no Mato Grosso e no Paraná, um avião e dezenas de veículos.

Há casos de bens em nomes de terceiros. O traficante Ivan Carlos Mendes Mesquita, considerado o principal elo entre os grandes cartéis colombianos e os brasileiros que controlam o tráfico no Paraguai, registrou uma fazenda no nome do filho Klayton Mendes Kalil, já condenado por lavagem de dinheiro, e do sócio Leoncio Ramon Mareco. Mareco está preso no Paraguai por tráfico.