Título: O INIMIGO NÚMERO UM DO NARCOTRÁFICO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 10/04/2005, O País, p. 4

Juiz de Ponta Porã vive cercado de policiais desde 1998

PONTA PORÃ. Com 22 anos de magistratura e 15 em outros empregos, o juiz federal Odilon de Oliveira, de 56 anos, poderia estar aposentado há sete. Mas tem bons motivos para continuar na ativa: aposentado, perderia o direito à proteção pessoal que o acompanha desde 1998. A cabeça do juiz vale US$100 mil (R$280 mil) no mercado da pistolagem na fronteira do Brasil com o Paraguai.

Chefe da recém-criada vara da Justiça Federal em Ponta Porã (MS), Oliveira é considerado o inimigo número 1 dos traficantes brasileiros que vivem no Paraguai. Juiz federal há 18 anos, trabalha desde 1983 na fronteira. Com ação fortemente marcada pelo combate ao crime organizado, é um dos principais responsáveis pela queda da lendária família Morel, que durante décadas chefiou o narcotráfico na região.

As intimidações se intensificaram em 1998. Desde então, a PF arquiva as ameaças contra Oliveira. O histórico virou um calhamaço. O risco de atentados fez com que Oliveira, um pernambucano bem-humorado, virasse refém dos criminosos que julga.

¿ Há uns dois anos não sei o que é dirigir meu carro ou sentar em um restaurante para jantar com a família.

As noites de dança com a mulher nos clubes de Campo Grande se tornaram perigosas. O lazer se resume a churrascos e jantares com amigos na casa da família em Campo Grande.

¿ Não dá para sair na rua. Outro dia me arrisquei a ir na Casa China (um shopping de importados em Pedro Juan Caballero, no Paraguai). Um traficante me viu e veio me intimidar, apesar da segurança.

Oliveira vai para casa a cada 15 dias. Mora no hotel do Exército, em Ponta Porã. Só anda em carros blindados e vive cercado por três policiais federais armados até os dentes, que o acompanham até nas corridas matinais na pista do quartel das Forças Armadas. As ameaças fizeram com que aprendesse a atirar e transformasse as armas em hobby.

Filho de retirantes pernambucanos que chegaram ao Mato Grosso do Sul na década de 50, trabalhou na da infância e à adolescência. Pagou a faculdade de direito com dificuldade e se orgulha do que conquistou.

¿ Só consigo suportar esta vida porque sei a importância do que faço.

A elegância das camisas e gravatas só é atrapalhada pelo cano do revólver, que teima em aparecer sob a bainha da calça.