Título: OFICIAL DA PM CHEFIAVA MILÍCIA CONTRA SEM-TERRA
Autor: Roberta Canetti
Fonte: O Globo, 06/04/2005, O País, p. 11

Além do tenente-coronel, PF prendeu, no Paraná, cinco policiais e dois falsos colonos que faziam desocupações ilegais

CURITIBA. A Polícia Federal prendeu ontem o tenente-coronel Waldir Copetti Neves, chefe do setor de logística do Estado Maior da Polícia Militar do Paraná, e mais cinco PMs e dois falsos sem-terra que criaram uma milícia para impedir invasões de terras. Eles desocupavam áreas na região de Ponta Grossa sem ordem judicial. A milícia era paga por fazendeiros da região.

Na fazenda de Neves, a operação ¿Março branco¿ da PF encontrou 16 armas contrabandeadas do Paraguai e três carros usados no patrulhamento dos acampamentos. Também foram apreendidos recibos de pagamento mensal assinados por fazendeiros, fotos, equipamentos de rádio e relatórios sobre a quadrilha. Os falsos sem-terra estavam infiltrados em acampamentos perto de uma fazenda da Embrapa invadida pelo MST. Neves é proprietário da fazenda vizinha e disputa, na Justiça, as terras do assentamento. Em 2004, ele conseguiu uma ordem de reintegração de posse.

Falsos sem-terra repassavam informações aos PMs

Segundo a PF, os falsos sem-terra repassavam informações aos PMs para que as invasões fossem barradas pela milícia. Os fazendeiros pagavam cotas mensais para ter o patrulhamento armado, além da garantia de desocupação imediata. Segundo o superintendente da Polícia Federal do Paraná, Jaber Makul Hanna Saadi, recibos comprovam que a milícia foi contratada diretamente por fazendeiros e também com o intermédio do Sindicato Rural de Ponta Grossa:

¿ O pagamento era feito por fazendeiros que financiavam até a compra de combustível para os carros de patrulha.

O presidente do sindicato, Marcos Degraf, negou a denúncia. Ele disse que os fazendeiros sempre foram orientados a aguardar decisões judiciais de reintegração de posse.