Título: JUROS E INEFICIÊNCIA
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 21/03/2005, Economia, p. 18

Gunnar Myrdal, um dos mais brilhantes economistas do século XX, cuja teoria sobre o desenvolvimento permanece atual, teria dificuldades para explicar o que acontece hoje com a economia brasileira. Myrdal explicava o desenvolvimento como um movimento circular ascendente impulsionado por uma conjunção de fatores positivos. Já o subdesenvolvimento teria sentido inverso.

O desafio do desenvolvimento, na opinião de Myrdal, estaria em anular os fatores negativos, criando-se as condições para o movimento ascendente (que ele chamava de causação circular cumulativa). Ou seja, a espiral só deixaria de ser descendente ¿ ciclo da pobreza ¿ passando a ascendente, quando o sistema econômico ganhasse eficiência.

Os executores do Plano Real acreditavam que o país estava caminhando nessa direção, mas a transição custou caro demais, e o processo foi abortado quando o déficit nas contas externas do país e o rombo nas finanças públicas atingiram patamares muito elevados ¿ e o mercado internacional não aceitou mais financiá-los.

No momento a economia brasileira parece conviver com dois movimentos circulares simultâneos, um ascendente e outro descendente. Quem consegue superar as ineficiências do país está conquistando mercados lá fora e crescendo. Quem esbarra nas ineficiências, encolhe.

Essas ineficiências, no seu conjunto, explicam porque a inflação tem sido tão resistente, embora os fatores antes apontados como causa (depreciação do câmbio, déficit público, grau de abertura da economia para o exterior, etc.) estejam neutralizados. O único remédio adotado para conter a elevação dos preços, que é a alta das taxas de juros, acaba contribuindo para alimentar essas ineficiências, à medida que joga o problema para a frente, trocando inflação por dívida pública.

Qual dos movimentos circulares vai prevalecer? Infelizmente Myrdal não está mais vivo (faleceu em 87) para nos ajudar a encontrar a resposta. Myrdal foi laureado por sua obra com o Prêmio Nobel de Economia em 1974 (junto com o austríaco Friedrich Hayek). Poucos anos mais tarde (1982), sua mulher, Alva, receberia o Prêmio Nobel da Paz pela campanha incessante em prol do desarmamento nuclear.

Outras perfurações terão que ser feitas para se saber exatamente qual é a dimensão do reservatório de óleo que foi encontrado na Bacia de Santos, a uns 160 quilômetros da praia de Copacabana (equivale à distância entre Rio e Cabo Frio, por terra). Sobre o reservatório encontrado há uma capa de gás natural, não muito grande, mas suficiente para que a exploração tenha de ser feita de maneira muito cuidadosa. Em uma avaliação preliminar, pelas características do reservatório, o volume de petróleo que pode existir ali seria de 150 milhões barris. Não chega a ser um campo gigante, como os da Bacia de Campos. Porém se tratando de óleo leve, é sempre uma boa notícia, que estimulará mais investimentos em exploração por ali.

O contingente de servidores civis federais na ativa aumentou em 45.574 no governo Lula, chegando a 547.236 no mês de dezembro de 2004. O número de contratações foi bem maior, porque nesse período outros 24.941 funcionários se tornaram inativos.

No legislativo, foram contratados mais de três mil funcionários desde 2002. Já no judiciário federal, o número de funcionários na ativa diminuiu de 81.716 para 81.100 (menos 606).

Mas em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), a folha de pagamentos dos servidores da ativa só cresceu no legislativo.

Incluindo os militares, o Brasil tinha, ao fim do ano passado, 994.241 funcionários federais na ativa e 991.246 servidores inativos. Há bem mais servidores civis aposentados (633.512) do que ativos (547.236) no executivo. Já entre militares e funcionários do legislativo e do judiciário, o número de servidores na ativa supera o de inativos.

Por isso, no ano passado a folha de pagamentos dos inativos do poder executivo (R$34,4 bilhões) continuou a superar a dos que estão na ativa (R$33,9 bilhões), fato que se repete desde 1998.

Os preços dos grandes navios praticamente dobraram desde o início de 2004, sendo que somente este ano a alta foi de 20%. Como o mercado mundial está muito aquecido, a construção naval brasileira espera agora se reabilitar, tendo como alavanca a encomenda inicial de 22 petroleiros, para a qual a Transpetro (subsidiária da Petrobras) deu a partida na semana passada. Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval, sindicato que congrega os estaleiros há 50 anos, acha que a partir dessa encomenda os armadores brasileiros se sentirão estimulados a renovar suas frotas, e pelo menos outros quinze navios poderão ser construídos no Brasil. A indústria nacional, que esteve quase paralisada nos anos 80, voltou a ter musculatura com a fabricação de embarcações de apoio para a exploração e produção de petróleo no mar (mais trabalhosos do que a construção de petroleiros). Ainda assim, para contornar a desconfiança que persiste sobre a capacidade do setor em construir grandes navios, os estaleiros brasileiros buscaram associações com grupos do exterior ou assinaram contratos de assistência técnica.

Como o BNDES não financia a compra de instalações já existentes, é mais fácil para quem deseja se expandir no setor criar um estaleiro novo. A Transpetro aceitou propostas desses futuros estaleiros, apelidados de virtuais.

Mas se de fato todas essas encomendas de navios se concretizarem (e mais a contratação de plataformas de petróleo) haverá trabalho suficiente para ocupar todo o setor.