Título: NO RIO, 4 EM CADA 10 ESTÃO NO SEGMENTO C
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 20/03/2005, Economia, p. 33

Tamanho do segmento na cidade e no país surpreendeu autores da pesquisa da FGV

Na pesquisa em que a dupla de consultores da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) idealizou a nova divisão de classes do país, o Rio de Janeiro aparece como a cidade com a maior proporção de habitantes na classe C. Quatro em cada dez cariocas pertencem a famílias C1, cuja renda média mensal é de R$2.039, ou C2, com ganhos de R$1.157. Ao todo, são 8.669 ruas e avenidas, de acordo com o cadastro do CEP, espalhadas por toda a cidade, mas especialmente concentradas em bairros como Pavuna, Ricardo de Albuquerque e a Zona Oeste.

¿ O tamanho da classe C foi a maior surpresa dessa pesquisa. Por causa desse fenômeno as empresas, como as redes de varejo, estão fazendo uma revolução. Basta ver a oferta de crédito ¿ diz o consultor Luiz Affonso Romano, um dos autores do Indicador de Poder de Compra da FGV.

Botafogo é o bairro com a maior mistura de classes

No Brasil, segundo a pesquisa, a classe concentra 36% das famílias. Em São Paulo, elas somam 37,2%; em Brasília, 33,9%. A capital federal é a cidade com a maior proporção de classe A1 (são 2,8% com renda média de R$11.293) e de D (28% ganham em torno de R$621 por mês).

No Rio, chamou a atenção dos pesquisadores a concentração da elite em três ou quatro bairros. Leblon e Urca só têm classe A. No Joá, 40% dos moradores são A0 ¿ ou seja, ganham em média R$26 mil. Na Lagoa, a proporção é de 36,7%. Nenhum bairro mistura as nove classes sociais (as favelas estão fora da classificação, porque têm apenas um CEP, o que prejudica análise socioeconômica). Mas Botafogo foi identificado como a área de maior mistura: seus moradores vão de A1 a D, segundo Rogério Gerber, outro autor do estudo.

¿ Aqui convivo com todo tipo de gente e nunca senti preconceito. Morei um tempo em Ipanema e, uma vez, me mandaram usar o elevador de serviço porque acharam que eu era empregada do prédio, não moradora ¿ lembra a artesã Paula Aguiar Rodrigues, moradora de Botafogo há 15 anos.

Ela vive com o marido, Alexandre Rodrigues, e os dois filhos, Filipe e Paulo, de 17 e 19 anos, num conjugado na Praia de Botafogo. O ganha-pão da família também está no bairro: é o casal vende, em duas bancas, as bijuterias que produz.

Vida parecida tem Rejane Pereira Lima, dona de uma barraca de doces com o marido. Eles saíram de São Cristóvão há quatro anos para viver no mesmo prédio de Paula. Hoje, já são donos de um conjugado, para onde pretendem se mudar ainda este ano, com as duas filhas, de 6 meses e quatro anos.