Título: A CIDADE VIRA VITRINE DO ARTESANATO BRASILEIRO
Autor: Adriana Castelo Branco
Fonte: O Globo, 20/03/2005, Rio, p. 32

É cada vez maior o número de lojas sofisticadas especializadas em objetos de arte popular produzidos no país

A produtora de cinema francesa Clementine Harland ficou surpresa ao entrar na quinta-feira passada numa galeria em Ipanema e se deparar com a Empório Brasil, que vende artesanato brasileiro. Procurando presentes originais para levar para os amigos parisienses, ela comprou badulaques de fitinhas do Senhor do Bonfim, pássaros de madeira de Minas Gerais e bonecas de cerâmica do Vale do Jequitinhonha. A Empório Brasil não é a única loja a oferecer objetos de arte popular em ambiente sofisticado e por preços muitas vezes dignos de obra de arte. Da Zona Sul à Barra da Tijuca, é cada vez maior o número de estabelecimentos dedicados a vender peças produzidas por artesãos de todo o país.

¿ Comprei por R$12 um chaveiro que é vendido em Paris por R$90. Nunca pensei que os artesãos brasileiros produzissem tanto ¿ avalia a francesa.

Arquiteta usou peças para decorar hotel na Barra

A arquiteta Janete Costa sabe disso há muito tempo. Uma das maiores incentivadoras de artesãos nordestinos, ela resume sua alegria ao comentar o crescimento do número de lojas de arte popular com uma expressão: ¿Graças a Deus.¿ Cliente da Maria de Barro, no CasaShopping ¿ que vende peças de 300 artistas ¿ a arquiteta fez a decoração do lobby do Sheraton da Barra da Tijuca com objetos de lá. O sucesso foi tão grande que a loja diariamente recebe hóspedes que querem levar peças similares às do hotel para casa.

¿ Sempre usei artesanato na decoração. É bom saber que as pessoas estão acordando para a identidade do Brasil. Se as lojas estão abrindo é porque estão vendendo ¿ diz Janete.

A empresária Patricia Kubotta comprova. Ela abriu sua primeira loja, Brasil Feito à Mão, em dezembro de 2003, no shopping Città America, na Barra. Meses depois, veio a primeira filial, no Barra Garden. Agora, ela já está atrás de uma loja na Zona Sul para expandir seu negócio:

¿ Parece que virou moda decorar a casa com peças únicas, que carregam a identidade de quem as fez. As pessoas estão descobrindo a riqueza da nossa matéria-prima.

Patricia não teme a concorrência. Mesmo sabendo que entre as ruas Joana Angélica e Henrique Dumont, em Ipanema, chamam a atenção quatro lojas que exibem alguns dos muitos exemplares da diversidade cultural e da criatividade do povo brasileiro. Os produtos são feitos de palha, madeira, cerâmica, renda e fibras de palmeira, só para citar alguns exemplos. Os preços variam de R$9 (um bumba-meu-boi de cerâmica fabricado em Caruaru) a R$19 mil (uma talha de quatro metros feita por um artesão de Olinda).

Peças são enviadas para Estados Unidos e Itália

A vitrine da Brasil & Cia., na Rua Maria Quitéria, tem tudo isso e muito mais. Há um ano, a empresária Miriam Gorim fechou sua loja de suvenires de pedras brasileiras para turistas e no lugar abriu outra, que oferece peças artesanais que mais parecem obras de arte, tamanha a riqueza do trabalho.

¿ Toda semana recebo clientes que me pedem para enviar peças para fora, principalmente para Estados Unidos e Itália ¿ diz Miriam.

Na loja, bailarinas da artista mineira Juliana Lima dividem espaço com esculturas de madeira de Joinville, cestas de piaçava e papel machê da Bahia, bonecas lavadeiras de Pernambuco e tradicionais bonequinhos de cerâmica de Caruaru.

¿ Às vezes evito passar em frente à loja só para não ter vontade de comprar. Não tenho mais lugar em casa ¿ diz o arquiteto Chicô Gouvêa.

Espaço é o que não falta na Oficina Brasilis, em Ipanema. A loja começou pequena, no subsolo de uma galeria, mas foi crescendo, crescendo... Hoje, ocupa três salas, além da área livre sob a escada rolante. Tudo para poder exibir objetos maiores, como portas pintadas à mão e móveis de Tiradentes, além dos quadros que reproduzem a Arca de Noé e o paraíso de Adão e Eva com peças de madeira coladas na tela.

¿ Temos que viajar sempre porque o estoque acaba rápido. A arte popular é acessível, não é tão cara como uma antigüidade ou um quadro de um artista de renome ¿ resume Arlinda Saboya, uma das sócias da loja.

Até mesmo quem não trabalha só com arte popular passou a vender peças de artesãos brasileiros, como a empresária Cláudia Monteiro Montenegro, dona da Bhara. A loja, que tem objetos do mundo inteiro, oferece caixas temáticas e chaveiros com patuás da paulista Vera Souto e os relicários da artista plástica Inés Zaragoza.

¿ Esta semana uma cliente encomendou dois mil chaveiros para levar para a Espanha ¿ conta Cláudia.