Título: ABERTURA DO RIO PARA O EXTERIOR
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 18/03/2005, Economia, p. 25

Movimento de cargas crescerá 46% no porto carioca. GM e Volks iniciam exportação

Serão 11 milhões de toneladas de carga embarcadas pelo Porto do Rio este ano, nas projeções da Companhia Docas do Rio de Janeiro, que administra os terminais. O aumento de 46% nos embarques virá em parte nas rodas dos carros da GM e da Volkswagen, que fecharam contratos ontem para exportar seus veículos fabricados em São Paulo pelo Rio. É o maior patamar de embarques desde 1997 e vem amparado pelo desempenho das exportações fluminenses em 2004, que aumentaram 45%, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

¿ Esse desempenho também virá sustentando pelas exportações de produtos siderúrgicos, que responderam por 20% do movimento ne 2004 ¿ disse Antonio Carlos Soares, presidente da Companhia Docas.

A GM começou a usar os terminais do Rio em julho último, para testar uma alternativa ao Porto de Santos ¿ o maior da América Latina ¿ engarrafado com o avanço de 32% das exportações brasileiras em 2004. Fará a partir de abril ou maio, dois embarques mensais de carros para o México. O objetivo é transferir para o Porto do Rio, de 20% a 30% dos embarques para aquele país, um dos principais destinos da montadora.

¿ Tivemos diversos problemas no Porto de Santos no ano passado com o aumento das exportações (só as vendas externas da montadora cresceram 38% em 2004). Por isso, fomos buscar alternativas no Rio e em São Sebastião (litoral Norte paulista) ¿ disse Silvio Payão, gerente de Logística da GM do Brasil.

De Taubaté para Rússia pelo Rio

Esses transtornos acabaram compensando a distância que separa a fábrica da GM em São Caetano (SP) do Porto do Rio. Santos continuará a ser a principal saída da montadora, por ficar a apenas 70 quilômetros da fábrica. Mas os preços mais competitivos dos terminais cariocas somados à velocidade no embarque e ao sistema informatizado reduziram o impacto do aumento de custos com o transporte rodoviário:

¿ O terminal está bem estruturado e tem folga ainda. O sistema permite um monitoramento constante da carga, fator imprescindível no comércio exterior ¿ disse Payão.

Pelo mesmo caminho segue a Volkswagen. Já usuária dos serviços com a divisão de caminhões e ônibus (80% das vendas externas desses itens passam pelo Rio), a montadora vai transferir cerca de 5% das exportações de seus carros para o Porto do Rio. Os destinos serão Rússia e o Norte da África, e os carros serão trazidos da fábrica de Taubaté (SP). Haverá um embarque mensal, de 500 a mil carros.

¿ Escolhemos o Rio pelas condições técnicas e comerciais oferecidas pelo Porto do Rio ¿ disse o diretor da Volkswagen Transport, Richard Shues.

A empresa foi a maior exportadora do setor em 2004, com a venda de 208 mil veículos e espera aumentar em 10% as vendas externas este ano. Essas duas indústrias se somam a Fiat, Peugeot, Citroën e Mercedes-Benz, que já usam a saída carioca:

¿ Investimos cerca de R$45 milhões e temos hoje um terminal para embarque de veículos de padrão internacional, com operação de coleta de dados em tempo real ¿ afirma Edson Marcelo de Sá, diretor do Grupo Multiterminais, responsável pelo embarque dos veículos.

Os gargalos estão fora das fronteiras do Porto do Rio. Segundo Marta Franco, chefe da Assessoria de Infra-estrutura e Novos Investimentos da Firjan, os acessos ferroviário e rodoviário são precários, prejudicando uma performance melhor do porto. O preço também é competitivo. De acordo com os dados da Firjan, em 2000, o Porto do Rio já tinha o menor custo portuário do país, posição inversa a de 1997, quando era o mais caro:

¿ O porto está sendo administrado com eficiência e tem folga na capacidade.

Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a decisão das montadores mostra que o porto carioca é competitivo, já que as empresas, com fábricas em São Paulo, optaram por embarcar seus produtos no Rio mesmo que a uma distância maior do local de produção. Castro acredita que a concessionária do porto ¿ a Multiterminais ¿ tem potencial para atrair cargas tradicionais.

¿ O que é produzido em Minas Gerais, por exemplo, em tese faz muito mais sentido embarcar pelo Rio, que é mais próximo. Não só automóveis, como até mesmo grãos de outros estados poderiam sair por aqui.

COLABOROU Luciana Rodrigues