Título: Os anéis do PT
Autor:
Fonte: O Globo, 16/03/2005, O Globo, p. 2

José Genoino, presidente do PT, garante que não é da boca para fora: o partido entende mesmo que Lula precisa fazer um governo de coalizão e ampliar o leque das alianças, tanto para governar como para disputar a reeleição. Para isso, o PT perderá quantos ministérios Lula achar necessário. Os que forem contra, desafia, que enfrentem este debate no interior do partido. Vão perder.

As afirmativas de Genoino não combinam com alguns movimentos petistas para segurar os companheiros ministros no cargo ou restringir a entrada de aliados. Mas estes, garante Genoino, são comportamentos individuais, que não refletem a compreensão partidária da reforma ministerial como parte de um projeto maior.

¿ E se algum petista não entender isso, que temos um projeto que vai além das carreiras e projetos individuais, que levante a discussão no âmbito do partido. Se isso acontecer, travaremos o debate. Tenho certeza de que a maioria apóia a tese da ampliação das alianças.

Genoino anda agastado com dois comportamentos que a seu ver ganharam espaço no PT depois da chegada ao governo: o personalismo e o individualismo, que se traduzem, com pequenas variações, no apego aos projetos pessoais em detrimento dos interesses maiores do governo Lula.

¿ Se um ministro resistir a sair agora, por exemplo, estará dando mostras de extremo egoísmo político. Quem ficou dois anos e meio no governo de Lula já teve uma grande vitória. Quem sair poderá muito bem explicar que isso aconteceu em função das necessidades políticas. Deixar um governo não é humilhação, pode muito bem ser uma prova de grandeza política ¿ diz Genoino.

Nomes ele não cita mas refere-se aos ministros petistas que deflagraram movimentos para permanecer, tais como Humberto Costa , Ricardo Berzoini e Olívio Dutra.

O egoísmo que diz estar pronto a combater não se esgota na reforma ministerial. Ele vai se manifestar mesmo, com todo o fulgor da estrela vermelha, é na composição das chapas para disputar os governos estaduais em 2006. Nesta hora, Genoino terá de torcer o cipó para garantir o apoio aos aliados em alguns estados. Se o PT insistir nas chapas puro-sangue, Lula correrá o risco de ser um candidato sem cauda ¿ apoiado por uma constelação de partidos no plano nacional mas sem apoios reais no estados. Com o fim da verticalização das coligações, não impedirá que isso aconteça.

Ontem Lula teria feito a primeira comunicação de demissão, mas a Amir Lando, do PMDB. Um dos mais cotados para sair, Ricardo Berzoini, do Trabalho, parece ter ganhado fôlego ontem para ficar. Já Humberto Costa, da Saúde, apesar do êxito de sua intervenção na saúde municipal no Rio, não alterou sua situação. Muito melhor será para ele, diz-se no governo, sair na alta do que na baixa. Sairá direto para a campanha a governador do estado.

Um petista cotado para entrar ¿ Jorge Bittar, no Planejamento ¿ ontem começou a perder terreno. A pasta pode ser oferecida à senadora Roseana Sarney.

Já o ministro do PP deve acabar sendo mesmo o deputado Ciro Nogueira, segundo vice-presidente da Câmara, indicado pelo presidente Severino Cavalcanti para Integração Nacional. Não é um nome muito vistoso mas sua escolha, além de contentar quem manda na Câmara, terá o condão de abrir uma vaga para o PT na Mesa.

Subversão das bases

Agora estão todos empatados, em matéria de derrotas no Legislativo. Lula perdeu a eleição na Câmara, com a vitória de Severino Cavalcanti; José Serra já havia sido derrotado na Câmara de Vereadores com a eleição do tucano dissidente Roberto Trípoli, que bateu o candidato oficial Ricardo Montoro. Agora, o governador Geraldo Alckmin é derrotado na Assembléia Legislativa paulista com a surpreendente vitória de Rodrigo Garcia, do sempre aliado PFL, sobre o tucano Edson Aparecido. Nos três casos aparece a mesma mistura de corporativismo e subversão contra a política dos cardeais ¿ nacionais ou regionais.

DE JOSÉ DIRCEU desdenhando a pasta da Coordenação Política: ¿Eu dei musculatura administrativa e qualidade de gestão ao governo. Não quero agora deixar tudo isso para ser babá de deputado¿.

EM NAGOYA, no Japão, onde se reuniu a Academia Internacional de Neurotraumatologia, a neuropsicóloga Lucia Wiladdino Braga, da Rede Sarah, foi mais uma vez premiada. Desta vez, pelo trabalho que apresentou sobre novas técnicas de reabilitação psicomotora a partir da estimulação cerebral. A ¿doutora Lucinha¿, como é conhecida, e a equipe do Sarah chefiada pelo dr. Campos da Paz levaram o Brasil para o primeiro time da pesquisa mundial nesta área.

VASTAS EMOÇÕES na sessão especial do Senado pela passagem dos 20 anos da redemocratização. Aécio Neves conteve-se muitas vezes e Sarney outras tantas, diante de reconhecimentos vindos até dos mais ácidos críticos, como Pedro Simon. Discretamente na galeria, com o ex-ministro Bessone, dona Antonia, que por mais de 20 anos foi a influente secretária de Tancredo Neves.

Em discussão

Secretários de Segurança dos estados do Sudeste, mais Bahia e Paraná, encontram-se com o Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, amanhã, na Firjan. Lá estarão também especialistas como o inglês Brian Donald, do National Criminal Intelligence Service, e Cláudio Beato, da UFMG, participando do primeiro de uma série de seminários para discutir ações efetivas de combate à violência. Cada seminário abordará um dos temas e sugestões apresentados em maio ao ministro Márcio Thomaz Bastos pela Firjan, como subsídios para a construção do Sistema Único de Segurança Pública.