Título: 'O capim tomou conta de tudo e nossas crianças morrem de fome', diz cacique
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 06/03/2005, O País, p. 4

Líder da Bororó diz que ajuda de governos não resolve problema principal

DOURADOS (MS). Cacique há 12 anos da aldeia Bororó, onde ocorreram sete mortes nos últimos dois meses, o "capitão" Luciano Arévalo diz que, depois da notícia das mortes, tanto o governador Zeca do PT quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão procurando levar mais assistência à reserva. Mas diz que o problema maior é a falta de recursos para plantar e produzir os alimentos de que precisam. Isso ele diz que não foi resolvido. Segundo o cacique, ninguém tem dinheiro para comprar sementes ou tratores para preparar a terra:

- Terras nós temos, cada um planta ali umas ramas de mandioca, abóbora, mas estamos esquecidos. Antes ainda podíamos arrendar a terra e pegar uns trocadinhos. Agora é proibido. O capim tomou conta e nossas crianças morrem de fome.

Ele disse que pediu à Funai que alugasse dois tratores para o plantio de soja e outros produtos agrícolas, mas só existe um trator, que está quebrado, na oficina. O óleo diesel foi fornecido, mas estão à espera do maquinário. Na reserva, cerca de mil velhos aposentados recebem um salário-mínimo da Previdência, mas muitos têm os cartões retidos pelos comerciantes na cidade, inclusive para quitar débitos contraídos com bebidas.

Consumo de álcool e maconha preocupa

Além da pobreza provocada pela falta de alimentos para comer e vender, o cacique diz que há outros problemas graves, como o alto índice de alcoolismo entre os índios jovens e adultos. Os traficantes se aproveitam da ausência de forças policiais na reserva para vender maconha e aliciar jovens para o tráfico.

- Antigamente o índio só bebia no fim de semana, agora bebe a semana inteira e não trabalha mais. A Polícia Federal tinha que entrar e tirar o traficante e o vendedor de pinga - pede o cacique.