Título: CONSUMO DE ANFETAMINAS TAMBÉM PREOCUPA
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Fonte: O Globo, 02/03/2005, O País, p. 3

O relatório distribuído ontem pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes(Jife) faz um alerta para o consumo descontrolado de anfetaminas para emagrecimento no Brasil. O documento registra que, desde 1998, quando o governo flexibilizou as regras para prescrição desses remédios, o consumo quintuplicou.

As drogas anoréticas, como são chamadas, causam preocupação por gerarem dependência química. Hoje, podem ser produzidas em qualquer farmácia de manipulação, desde que o cliente apresente uma receita médica. Da mesma família de drogas do ecstasy, por exemplo, esses medicamentos têm efeito direto na redução do apetite. Por isso são usados para forçar o emagrecimento.

O relatório da Jife observa que, entre 1994 e 1997, medidas baixadas pelo governo para acirrar a fiscalização ajudaram a reduzir sensivelmente o consumo. ¿Mas, em 1998, com a introdução de uma legislação mais permissiva, o uso de anfepramona e fenproporex (os dois tipos de anfetamina para emagrecimento) aumentou em mais de 500%¿, critica o documento.

A Jife sugere que o governo brasileiro estude medidas para inibir a ¿prescrição excessiva¿. Para o brasileiro Elisaldo Carlini, membro titular da Jife, a melhor solução seria suspender de imediato as licenças que autorizam as farmácias de manipulação a produzir drogas anoréticas.

¿ Além disso, os médicos deveriam prescrever esse tipo de droga somente nos casos de obesidade patológica. Hoje, esses remédios têm sido usados para fins cosméticos ou seja, por pessoas que querem emagrecer por vaidade ¿ diz Elisaldo Carlini, que apresentou o relatório ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto.

A crítica ao consumo indiscriminado das anfetaminas não é o único alerta dirigido ao Brasil no documento. Entre os desafios a serem vencidos no combate às drogas, a Jife aponta a falta de integração entre a Polícia Federal e as polícias estaduais. "A falta de cooperação entre as forças policiais nos níveis federal e estadual limita gravemente a eficácia dos esforços".

Coordenador de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, o delegado Ronaldo Urbano concorda com a necessidade de integração.

¿ Não se justifica as instituições trabalharem de maneira isolada quando as organizações criminosas globalizam suas ações ¿ disse.

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armando Félix, a quem está subordinada a política nacional antidrogas, diz que o Brasil está buscando uma solução, mas reconhece que a tarefa não é fácil:

¿ Isso é uma coisa que nós temos trabalhado e vamos continuar trabalhando. As coisas não se resolvem num passe de mágica.