Título: Asfalto e usina mudam geografia do desmatamento ilegal no Pará
Autor: Beiro, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2012, Vida, p. A16

Frente de derrubada da floresta se deslocou para o sudoeste do Estado, que é o campeão de desmate na Amazônia

Um levantamento da explora­ção de madeira no Pará, Estado apontado como campeão do des­matamento no País, mostra que obras de infraestrutura têm des­locado a atividade ilegal para o sudoeste paraense, ameaçando as ações que têm reduzido o des­matamento em outras áreas. Mesmo com ligeira queda, 60% da exploração de florestas locais ocorreu sem autorização entre agosto de 2010 e julho 2011.

Segundo o estudo, produzido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 488 quilômetros quadra­dos foram desmaiados sem o aval da Secretaria de Estado de Meiq Ambiente do Pará (Sema). Cerca de 72% da atividade foi rea­lizada em áreas privadas, devolu­tas ou sob disputa. O restante ocorreu em assentamentos de re­forma agrária (20%) e em áreas protegidas

Um dos responsáveis pela pes­quisa, o engenheiro florestal e pesquisador do Imazon André Monteiro, destaca que a queda do desmatamento, que havia si­do de 10% no período anterior, foi de apenas 5% neste levanta­mento. "O relatório dá a indica­ção de algumas regiões críticas. A exploração ilegal, que se con­centrava no nordeste e sudeste, do Estado, está crescendo no su­doeste", afirma Monteiro.

Uma das principais causas, se­gundo ele, é a melhoria da BR-163, rodovia que vem sendo asfaltada para facilitar a ligação entre Santarém e Cuiabá. "Co­mo o remanescente florestal es­tá se esgotando nas outras re­giões, a estrada asfaltada aumen­tou a circulação e facilitou a ex­tração ilegal ali", diz o pesquisa­dor. A participação da área no to­tal de exploração ilegal no Estado subiu de 15% para 30%.

Comisso, é possível que muni­cípios como Uruará Altamira su­bam nos índices de desmate ile­gal. Outras obras que. têm tido influência no deslocamento da extração irregular, segundo o Imazon, incluem a pavimenta­ção da Transamazônica e a cons­trução da usina de Belo Monte.

Redução. Nas estatísticas ofi­cias do governo sobre o desmata­mento na Amazônia Legal entre agosto de 2011 e julho deste ano, o Pará aparece com o maior índi­ce de florestas derrubadas, com 1.699 quilômetros quadrados. A secretaria de Meio Ambiente, po­rém, lembra que o Estado redu­ziu a taxa em 44%, em relação ao ano anterior. "Estamos fazendo uma vigilância contínua e os nú­meros mostram que o caminho é certo, porque estamos vencen­do", disse o secretário estadual de Meio Ambiente, José Colares, por meio de nota.

O estudo do Imazon aponta que, além dos investimentos em infraestrutura, a demora na regu­larização de áreas de floresta pú­blica tem freado o ritmo de que­da no desmatamento. "Em lo­cais como a zona de Itaituba 2 (uma Floresta Nacional), parece haver uma corrida dos invaso­res, que tentam extrair o máxi­mo antes de ser adquirida pelo governo", diz André Monteiro.

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