Título: Apagão foi causado por erro humano e falha da transmissora, diz o governo
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2012, Economia, p. B1

Relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico diz que chave de proteção não foi religada após manutenção realizada uma semana antes.

O apagão que deixou as Regiões Norte e Nordeste às escuras na madrugada da sexta-feira foi causado por um erro humano seguido por uma falha de procedimento da empresa que administra a linha de transmissão entre Colinas (TO) e Imperatriz (MA).

Relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado ontem, apontou que uma chave de proteção da subestação de energia em Tocantins não foi religada após manutenção realizada uma semana antes. Esse problema não foi identificado pela companhia antes do incidente.

A interrupção no fornecimento de energia foi a terceira ocorrência de grandes proporções em pouco mais de um mês no País e a quarta queda de eletricidade ocasionada por problemas na proteção das linhas de transmissão.

"A falha não foi identificada porque testes operacionais não foram feitos. Como a proteção não funcionou, o desligamento foi propagado", disse o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, ao comentar o erro cometido pela Taesa, empresa responsável pela subestação onde o equipamento de proteção estava desligado.

O ONS também identificou falhas no religamento da energia. A luz só voltou nas cidades depois de mais de quatro horas de escuridão. "O tempo de recomposição foi muito demorado, estamos investigando. Houve falhas nos três caminhos principais de religamento da energia, como bloqueios de disjuntores, tensões elevadas", completou.

Alternativas. De acordo com o diretor, os órgãos já iniciaram estudos para a definição de caminhos alternativos de religamento da eletricidade e a superação desses bloqueios. Chipp explicou que o apagão da última semana não teve a mesma causa dos anteriores. Ele citou que o primeiro incidente no Nordeste, há cerca de 40 dias, foi provocado por uma falha de projeto, que deixou um trecho da linha de transmissão sem proteção. Já o segundo, no Sul do País, foi causado por falha no equipamento. A terceira ocorrência, que atingiu apenas Brasília, teria sido provocada por uma sobrecarga na rede.

Diante da sequência de quedas de energia, o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, afirmou que o órgão regulador pode rever os regulamentos para testes de equipamentos e procedimentos de emergência. "Vamos investigar e partir também para uma série de aprimoramentos no sistema", prometeu.

Para isso, a agência vai realizar um pente-fino em todo o sistema de transmissão de energia no País, com o auxílio de equipes técnicas das próprias companhias. "Será um trabalho de auditoria paralela, como ocorre no setor de energia nuclear, disponibilizando equipes para verificar procedimentos de outras empresas", afirmou.

Segundo ele, o sistema elétrico brasileiro não pode tolerar novas ocorrências. "Por motivos diferentes, tivemos eventos semelhantes. Não podemos esperar que novo problema cause ocorrência", completou.

Erros. O ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, garantiu que a hipótese de falha proposital está totalmente descartada. "Ocorreram duas coisas: um erro de um técnico e a falta de um procedimento de verificação por parte da empresa", repetiu. Zimmermann disse ainda que "não faz sentido" vincular os recentes apagões em várias regiões do País com o processo de renovação das concessões do setor elétrico.