Título: Ex-controlador do Cruzeiro do Sul é preso pela Polícia Federal em São Paulo
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2012, Negócios, p. B14

Finanças. Luis Octávio Índio da Costa, ex-presidente do banco liquidado pelo BC em setembro com um rombo bilionário, foi preso preventivamente por pedido do Ministério Público Federal, por causa do tamanho da lesão causada aos clientes da instituição

A Polícia Federal prendeu ontem o executivo Luís Octávio Índio da Costa, ex-presidente do Banco Cruzeiro do Sul. Delegados e agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros (Delefin) da PF localizaram Índio da Costa às 17 horas em sua residência, um condomínio fechado em Cotia, na Grande São Paulo. Ele foi levado para a sede da Superintendência Regional da PF, no bairro da Lapa.

A prisão tem caráter preventivo - Índio da Costa fica preso até o fim do julgamento, salvo se for beneficiado por habeas corpus. A ordem foi decretada pelo juiz Márcio Ferro Catapani, da 2.ª Vara Criminal Federal, que acolheu pedido da PF com manifestação favorável da Procuradoria da República.

O juiz mandou prender também o pai de Luís Otávio, o executivo Luís Felippe Índio da Costa. Como ele tem idade avançada, poderá permanecer em regime domiciliar.

O Ministério Público Federal requereu prisão de integrantes do comitê executivo do Conselho de Administração do banco, que sofreu liquidação do Banco Central em setembro, após ter apresentado rombo que pode superar R$ 4,5 bilhões. O juiz Catapani não atendeu essa parte do pedido, mas decretou bloqueio de bens dos dirigentes.

O motivo principal que levou a PF a representar pela custódia dos ex-controladores do Cruzeiro do Sul foi a magnitude da lesão causada aos clientes da instituição. A PF deu ênfase aos mútuos fraudulentos em nome de laranjas celebrados em benefício próprio para ocultar e dissimular a origem de recursos ilícitos.

Luís Octávio, Luís Felippe e os executivos do banco serão formalmente indiciados por crimes contra o sistema financeiro, contra o mercado de capitais e lavagem de dinheiro. A pena prevista para esses delitos vai de1 ano a 12 anos de prisão e multa.

O inquérito da PF foi instaurado em junho de 2012, após o encaminhamento de informações do Banco Central apontando fraudes contábeis realizadas pelo Cruzeiro do Sul. Durante a investigação, a PF identificou outras condutas criminosas, além de ter conseguido localizar diversas vítimas de fraudes em fundos de investimentos.

A PF estima em pelo menos R$ 1,3 bilhão o tamanho do desvio. Ao pedir a prisão, a PF relata uma sucessão de atos que caracterizam gestão fraudulenta para lavagem de capitais.

O inquérito narra que a trama causou prejuízos a centenas de clientes, com diversas operações fraudulentas, aquisições fictícias, simulações, resgates de investimentos e aplicações vedadas, "tudo em proveito próprio".

O juiz Catapani acolheu parecer do Ministério Público Federal. Procuradores consideram que a Justiça tem tido mais percepção sobre o nível de gravidade desse tipo de delito, que acaba lesando de forma irreversível diversos segmentos da sociedade.

Processo. Liquidado em setembro, com um rombo bilionário, o Cruzeiro do Sul estava sob intervenção do Banco Central desde o início de junho. Para continuar funcionando, precisava ser vendido para outro banco pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que havia assumido a gestão a pedido do BC. Como as negociações com o único interessado - o Santander - não prosperaram, o BC acabou liquidando a instituição.

Outro banco, o Prosper, que havia sido comprado pelo Cruzeiro do Sul no fim do ano passado, teve o mesmo destino. O BC, no entanto, ainda não havia dado o sinal verde para a operação de compra. Por isso, os bens dos controladores e ex-administradores do Prosper também ficaram indisponíveis, como já estavam os do Cruzeiro do Sul.

Juntos, os dois bancos detinham 0,36% dos depósitos e 0,26% dos ativos do sistema financeiro brasileiro.