Título: Banco Central lidera compulsórios e injeta R$ 30 bilhóes na economia
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2012, Economia, p. B1

No mesmo dia em que liquidou duas instituições financeiras, o Cruzeiro do Sul e o Prosper, o Banco Central anunciou a redução dos recolhimentos compulsórios que os bancos são obrigados a fazer sobre os depósitos à vista e a prazo, o que deve injetar cerca de R$ 30 bilhões na economia nos próximos meses. Também foram dados incentivos para as compras de carteiras de bancos e financiamentos de motos.

Segundo o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, a medida vai impulsionar o consumo e ajudar a reduzir o juro ao consumidor, ao diminuir o chamado spread bancário -a diferença entre o que o banco paga para captar e o que cobra no empréstimo. Esse é, segundo Mendes, o objetivo da medida.

Ele tentou afastar a suspeita que a atuação do BC teria sido motivada por dificuldades enfrentadas por outros bancos pequenos. Mendes assegurou que isso foi "mera coincidência". Ele afirmou que a redução dos compulsórios "não é uma medida de estabilidade financeira".

De acordo com o diretor, os R$ 380 bilhões em compulsórios hoje correspondem a cerca de 9% do PIB. Esse porcentual vai cair para 8,5%. "É um porcentual excessivo. Vai cair para algo mais próximo dos padrões internacionais. É o que estamos buscando dentro de um processo de médio prazo. É uma primeira medida, outras poderão vir."

Compulsórios são recolhimentos que os bancos precisam fazer ao BC sobre os recursos depositados, como forma de o governo regular a quantidade de dinheiro na economia.

Para liberar os recursos, o BC eliminou um adicional de 6% que os bancos tinham de recolher sobre os depósitos compulsórios de seus depósitos à vista.

Há também um adicional sobre os compulsórios de depósitos a prazo, de 12%, que cairá para 11% a partir do dia 29 de outubro. Além disso, foi permitido que os bancos direcionem até metade do compulsório sobre depósitos a prazo para a compra de Letras Financeiras e carteiras de crédito.

Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências, o objetivo do governo é dar mais fôlego aos bancos para emprestar. "Com isso, as instituições financeiras teriam mais capital à disposição, o que permitiria uma redução maior dos spreads bancários. Isso ajudaria diretamente a estimular o consumo."

O ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman disse que as medidas de incentivo a compras de letras financeiras e carteiras de crédito "encorajam o fluxo de financiamentos entre bancos e garantem que não haja um empoçamento de liquidez".

Para o economista, somando-se a medida anunciada à ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, "torna-se mais remota a possibilidade de corte de juros na próxima reunião do BC"./ COLABORARAM: LU AIKO OTTA, RICARDO LEOPOLDO, GUSTAVO PORTO e FRANCISCO CARLOS DE ASSIS