Título: Desertores sírios organizam Exército
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2011, Internacional, p. A12

Oficial diz que força militar que resistiu a Assad em Rastan já tem 10 mil homens; para analistas, exemplo dos dissidentes líbios influencia rebeldes

Um grupo de militares desertores, conhecido como Exército da Síria Livre, está se revelando o primeiro desafio armado ao regime de Bashar Assad, depois de sete meses de resistência em grande parte não violenta. Riad Asaad, coronel da Força Aérea que fugiu para a Turquia, disse ontem à Associated Press ter 10 mil combatentes, e pediu que mais desertores se unam ao movimento para derrubar o "assassino".

Embora os analistas afirmem que é possível que o número seja exagerado, Asaad acredita que logo outros soldados aderirão às suas fileiras. "Em breve eles descobrirão que uma rebelião armada é a única maneira de quebrar o regime sírio", afirmou em entrevista por telefone da Turquia. "Peço a todos os membros honrados do Exército sírio que se unam a nós. É a única maneira de acabarmos com este regime assassino." O grupo dissidente começa a ganhar impulso, o que dá sinais de uma tendência à militarização do levante. Esse fortalecimento aumenta os temores de que o país caminhe para a guerra civil.

O movimento poderia estimular a revolta encorajando novas deserções entre os oficiais de patente superior, ou provocar uma horrível reação oposta, dando ao regime um novo pretexto para uma repressão ainda mais feroz do que tem feito até agora. Cerca de três mil pessoas morreram por causa da violência desencadeada desde março, segundo a ONU e militantes sírios.

Se os rebeldes não conseguirem garantir um ponto de apoio territorial como trampolim para novas operações - como a cidade oriental de Benghazi foi para os rebeldes líbios - as deserções não deverão representar uma ameaça concreta à unidade do exército sírio.

"O modelo líbio está se tornando cada vez mais atraente para a oposição síria", segundo Shadi Hamid, diretor de pesquisa de The Brookings Doha Center no Catar. "Mas o oposto disso é que o regime terá o pretexto para arrasar essas cidades. A iniciativa é muito arriscada."

Uma intervenção internacional, como a ação da Otan na Líbia que contribuiu para derrubar Muamar Kadafi, no entanto, está fora de questão na Síria. Washington e seus aliados mostraram-se pouco dispostos a intervir em outra nação árabe em revolta. / AP