Título: 1º leilão de aeroporto tem ágio de 228%
Autor: Gonçalves, Glauber ; Mautone, Silvana
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2011, Economia, p. B1-3

Engevix e Corporación América levam São Gonçalo do Amarante com lance de R$ 170 milhões e abrem caminho para outras privatizações

O consórcio Inframérica, sociedade da Engevix com a argentina Corporación América, venceu ontem o leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, o primeiro a ser entregue à iniciativa privada. Com um lance de R$ 170 milhões, o que representa um ágio de 228%, o grupo desbancou três outros consórcios. O leilão abre caminho para a privatização dos Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília.

O Inframérica promete empenho para concluir o aeroporto antes da Copa de 2014. "Temos 36 meses, mas é importante estar pronto antes do prazo, e estar operando no período em que o tráfego será maior", disse o representante da Engevix, José Antunes Sobrinho.

Em corrida contra o tempo, a empresa já pediu à Anac para antecipar em um mês a assinatura da concessão, prevista inicialmente para 22 de novembro.

O contrato estabelece que a empresa terá direito de explorar o aeroporto por 28 anos, incluindo o período das obras. O investimento total no empreendimento será de R$ 650 milhões.

O interesse das empresas pela concessão dos aeroportos surpreendeu o setor, depois que algumas operadoras internacionais declararam que o retorno do projeto era baixo e puseram em dúvida as projeções de demanda de passageiros. A previsão oficial é que o aeroporto movimente 3 milhões de passageiros em 2014; 4,7 milhões, em 2020; e 7,9 milhões, em 2030.

Para o vencedor do leilão, o retorno real do empreendimento será de 9% a 10% ao ano. "Tem de ser um retorno que permita fazer alavancagem em banco. É acima de 6% de ganho real, com certeza", afirmou Sobrinho.

A Corporación América, sócia da Engevix com 50% de participação no consórcio, é a controladora da Aeropuertos Argentina 2000. Em um processo conturbado, a empresa levou a concessão de 33 aeroportos no país - entre eles o de Ezeiza e o Aeroparque, em Buenos Aires - no fim da década de 90.

Logo após a concessão, a Argentina mergulhou em profunda crise econômica, em 2001. No mesmo ano, os atentados de 11 de setembro, nos EUA, afetaram ainda mais o setor aéreo. Com menos passageiros, o grupo teve dificuldades para honrar os compromissos com a concessão.

Em artigo publicado no ano passado, o pesquisador argentino Gustavo Lipovich afirma que a gestão da Aeropuertos Argentina 2000 teve irregularidades que ameaçaram a continuidade do contrato. Ele enumera a falta de pagamento, forte endividamento com o Estado, investimentos parciais, prática de sobrepreço e renegociações precárias do contrato.

Além do Inframérica, disputaram o leilão os consórcios Aeroleste Potiguar (Triunfo Participações e FCC Construcción); ATP-Contratec (ATP Engenharia e Contratec); e Aeroportos Brasil (MPE e Instituto de Transportes Aéreos do Brasil).