Título: Comércio tem queda de vendas em abril
Autor: Leonel, Flavio ; Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2011, Economia, p. B8

Após 11 meses consecutivos de crescimento, setor começa a sentir efeitos de medidas de contenção adotadas pelo BC, aponta pesquisa do IBGE

Após 11 meses seguidos de alta, as vendas do comércio recuaram em abril. A queda foi de 0,2% em relação a março, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor começa a sentir efeitos das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo para conter o crédito e controlar a inflação. Mas especialistas ainda apostam em expansão em 2011.

Embora a receita do varejo permaneça crescendo, em abril metade das dez atividades pesquisadas registrou queda de vendas. O gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Reinaldo Pereira, vê possibilidade de acomodação da atividade, após longo período de fortes altas. "O aumento de preços de alguns produtos pode estar inibindo a demanda". Para o economista Gustav Gorski, do Banco Cooperativo Sicredi, é cedo para constatação de que o varejo mostrará crescimento mais moderado, ao menos no curto prazo.

"Esses números não mostram desaceleração na questão da demanda pelo lado do comércio", disse Gorski. "A PMC não trouxe indícios de desaceleração pontual ou generalizada em termos de volume de varejo."

Segundo o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, as vendas devem ter recuperação na margem, mesmo com expectativas de desaceleração na atividade econômica para o resto de 2011.

"Para os próximos meses, devemos considerar o efeito positivo da acomodação da inflação corrente sobre o consumo das famílias, que ficou comprometido nos primeiros meses do ano por conta da perda de renda real", escreveram os analistas liderados pelo diretor de Pesquisa e Estudos Econômicos da instituição, Octavio de Barros.

A Tendências Consultoria acredita que a queda no volume de vendas reflete movimento de correção de curto prazo no indicador. A expectativa é de retomada do crescimento nos próximos trimestres, mas a taxas decrescentes. "O fato é que, quando se observa a comparação com o ano passado, o desempenho do varejo como um todo é positivo e reflete, ainda, a evolução favorável da massa salarial real", disse o analista Alexandre Andrade, da Tendências, que prevê expansão de 6,8% no varejo este ano.

Em relação a abril de 2010, as vendas do varejo tiveram alta de 10%, impulsionadas pela maior demanda por eletrodomésticos e compras para a Páscoa nos supermercados. "Enquanto no ano anterior os gastos com a Páscoa foram feitos em março, este ano foram em abril", disse Pereira. Segundo ele, o recuo nos preços dos eletrodomésticos, de 6% nos últimos 12 meses estaria estimulando uma demanda reprimida. A estabilidade do emprego e o crescimento da massa salarial também contribuem.

"A garantia do emprego faz com que você consiga e se arrisque no financiamento e houve o aumento da renda. Mesmo aumentando os juros, há demanda, porque o brasileiro, de modo geral, não se preocupa muito com o quanto paga de juros. Ele pensa: Dá para pagar? Cabe no meu orçamento? Então parcela em 24 vezes", acrescentou Pereira.