Título: Especialistas reagem com cautela às diretrizes do CNE
Autor: Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2011, Vida, p. A27

Educadores dizem que propostas são positivas, mas reformas vão depender da organização das redes de ensino

Educadores e especialistas em ensino médio ouvidos pelo Estado consideram positivas as propostas do Conselho Nacional de Educação (CNE) para essa etapa da educação básica, mas com algumas ressalvas. Segundo eles, alguns pontos, para serem efetivados, dependem principalmente da organização das redes de ensino.

"As diretrizes, com esse menu de escolhas de áreas temáticas, oferecem ao aluno a possibilidade de antecipar essa fase de transição para o mercado de trabalho", explica o economista e especialista em ensino médio da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri. "O ensino médio de hoje é genérico demais. A escola tem de ser atrativa para o aluno que quer frequentar o mercado de trabalho."

Para Neri, a mudança deveria ocorrer não em nível nacional, mas estadual. "A única coisa que me assusta um pouco é a rapidez dessa mudança. O ideal seria aplicar essa flexibilização em alguns Estados, primeiramente."

Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), também vê as propostas com cautela. "Repensar o ensino médio é urgente e isso passa pela reinvenção do currículo. A iniciativa é importante", afirma.

Entretanto, ela acha que a ênfase em uma área específica na escola pode acabar excluindo alunos que não se interessem por essas disciplinas. "A flexibilização pode resolver a motivação, mas pode provocar também um desinteresse. Será que os alunos vão poder optar? Isso é complicado de organizar."

Tanto ela como Neri veem como positiva a ideia de aumentar o tempo em que seria possível concluir o ensino médio noturno, diminuindo a carga horária diária dos alunos. "A princípio, isso pode ser interessante para o estudante", diz Anna Helena.

Wanda Engel, especialista em ensino médio do Instituto Unibanco, acha que, apesar de positivas, as novas diretrizes não vão solucionar os problemas crônicos dessa etapa da educação básica brasileira. "É um avanço grande, mas não acho que resolverá a questão da evasão, por exemplo. Nenhuma ação específica soluciona um problema de grande complexidade, como é o caso", afirma. "Focar em áreas específicas exige a reformatação dos professores que darão essas aulas. Isso implica em outro problema: vai faltar professor."

Ela é contra as medidas para o noturno. "Isso vai incentivar ainda mais a ida de alunos para esse período, o que é prejudicial."

Distância. Para o educador e presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), Fredric Litto, a inserção de uma possível carga horária não presencial é válida, mas critica o limite de aulas. "Muitos alunos têm maturidade, já nessa idade, para fazer educação a distância", afirma. "No entanto, acho errado limitar a 20% da grade. Muitos jovens no Brasil precisam trabalhar e estudar ao mesmo tempo. O ensino a distância oferece flexibilidade e conveniência nesse sentido."