Título: Mantega confirma medidas para o câmbio
Autor: Modé, Leandro ; Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Economia, p. B1

Ministro comemora elevação da nota pela Fitch, mas diz que País vai atrair mais dólares e que o governo ""seguirá tomando medidas""

Apesar de mostrar contentamento com o aumento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que essa situação deve estimular ainda mais a entrada de dólares, o que no momento é um problema.

Mantega admitiu que o governo continuará tomando medidas para conter o excesso de entrada de dólares, que tem levado à valorização do real e minado a competitividade do setor exportador nacional, além de tornar mais dura a concorrência interna com importados.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem por meio de nota à imprensa que a decisão da Fitch de elevar a nota do Brasil foi "um reconhecimento da consistência da política econômica ao longo dos anos e da melhora dos seus fundamentos alcançada por meio das políticas de meta de inflação, câmbio flutuante, acúmulo de reservas internacionais, responsabilidade fiscal e solidez do sistema financeiro".

De acordo com Tombini, a boa notícia, contudo, não reduz a "determinação do BC em continuar trabalhando para que os avanços obtidos até agora continuem a ocorrer em um ambiente econômico de estabilidade monetária e solidez financeira".

Medidas. A declaração de Mantega confirma as informações que circularam nos bastidores no fim da semana passada, de que novas iniciativas para conter a alta do real estão sendo preparadas. No fim de março, o governo elevou para 6% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos de até um ano tomados no exterior por empresas e bancos. A medida, no entanto, não conseguiu frear o fortalecimento do real, que se acelerou na quinta-feira e sexta-feira e levou o dólar a R$ 1,61.

O problema é que à medida que ações são anunciadas pelo governo, o repertório de política econômica diminui e mesmo assim o dólar continua caindo em relação ao real, reforçando a preocupação do governo.

Para enfrentar o problema, o governo pode promover uma nova rodada de aumento de IOF, seja para aplicações no mercado financeiro, seja para empréstimos tomados no exterior. Além de mexer na alíquota do imposto, o governo poderia estender a tributação maior para empréstimos com prazos superiores a um ano. O governo pode ainda acionar o Fundo Soberano do Brasil (FSB) para comprar dólares.

"Câmbio simultâneo". Ontem, no fim do dia, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou uma medida para evitar dribles na taxação de 6% dos empréstimos externos de até um ano.

A iniciativa exige que se faça um "câmbio simultâneo" de entrada e saída de recursos em operações de renovação ou renegociação dos termos de empréstimos externos e também quando alguém assume dívida externa de outro. Assim, em operações de até um ano, os 6% de IOF também serão cobrados nas renovações, repactuações ou assunções de dívida externa.

Repercussão

ALEXANDRE TOMBINI PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

"O BC continua trabalhando para que os avanços continuem em ambiente de estabilidade monetária e solidez financeira"

Exceção "Ainda que tenhamos críticas ao País do ponto de vista macroeconômico, o Brasil está melhor do que países da Europa e os EUA", diz o economista da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda.