Título: Banco Central eleva compulsório de bancos
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2010, Economia, p. B6

Parcela dos depósitos à vista que instituições financeiras devem deixar com a autoridade monetária sobe para 43% em julho

O Banco Central anunciou ontem um cronograma de elevação do recolhimento compulsório sobre depósitos à vista (como conta corrente) nos bancos. Atualmente, os bancos têm que depositar no BC 42% do que captam por meio de conta corrente.

Pelo novo cronograma, as instituições passarão a recolher 43% a partir de julho, subindo para 44% em julho de 2012 e para 45% em julho de 2014. O objetivo da medida é evitar que os bancos tenham uma sobra extra de dinheiro a partir de julho, quando tem início um calendário de redução da exigência de aplicação de recursos à vista no crédito rural, que vale também até 2014.

A elevação do compulsório vai retirar de circulação R$ 1,6 bilhão a partir de 7 de julho, segundo estimativa do BC. No total dos ajustes programados até 2014, considerando a manutenção do atual nível de depósitos à vista, o recolhimento adicional seria de R$ 4,7 bilhões.

Os números deixam claro que o alcance da medida de ontem é menor do que as das anunciadas em março, quando o BC reverteu uma séria de iniciativas adotadas na crise. O enxugamento, na época, foi de R$ 71 bilhões.

Crédito rural. Em julho, o governo reduzirá de 30% para 29% a exigência dos bancos aplicarem recursos de depósitos à vista em crédito rural. O programa de redução dessa obrigação de direcionamento de recursos já estava previsto desde março do ano passado, quando o BC elevou essa exigência de 25% para 30% para garantir recursos ao financiamento do setor rural, que também estava sendo afetado pela crise. O calendário de diminuição da exigência para o crédito rural prevê que a cada ano essa obrigação caia em 1 ponto porcentual, até atingir, em julho de 2014, 25% dos depósitos à vista. Se não elevasse o compulsório, o menor direcionamento para o crédito rural aumentaria a disponibilidade de recursos para os bancos emprestarem para outros segmentos, em um contexto em que o BC está subindo os juros para conter a atividade econômica. Ou seja, poderia, ainda que em nível reduzido, ser mais um estímulo ao crescimento que o BC quer dosar.

Sinal. O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas enxergou nesse movimento um sinal da autoridade monetária na direção de restringir o crédito para conter a demanda interna. Para ele, a autoridade monetária está mostrando ao mercado que tem instrumentos adicionais à alta dos juros para conter a inflação.

"O BC poderia deixar a exigibilidade de aplicação em crédito rural cair sem alterar o compulsório. Ao não fazer isso, passa um sinal de que não quer ver redução nos spreads bancários e que pode atuar mais para frear o crédito", afirmou.

"Isso é o BC dizendo que pode fazer mais para conter a demanda", completou Freitas.

Ao anunciar a elevação do compulsório, o BC estimou que a medida vai retirar R$ 1,6 bilhão da praça.