Título: A Ata do Copom confirma uma nova Selic em abril
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2010, Economia, p. B2

A Ata da 149.ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é talvez a mais clara já divulgada: é unânime, entre seus membros, a opinião quanto à necessidade de elevar a taxa Selic. A discordância foi sobre qual seria o momento oportuno: se na reunião encerrada anteontem ou na próxima, de 27 de abril. Faltou uma explicação para o adiamento da decisão, que levanta a suspeita de que foi tipicamente política ? fator que até agora não sensibilizava os membros do Copom.

O documento foi bem claro: "Houve consenso entre os membros do Comitê quanto à necessidade de se implementar um ajuste da taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia."

No entanto, apenas três dos oito membros foram favoráveis a aumentar a Selic já. Além do fator político, é normal que se busque alguma outra explicação para esse adiamento da decisão. O parágrafo 15 da ata nos dá uma ideia de como o "consenso" em favor do aumento acabou sendo minoritário.

Dentro das hipóteses de trabalho, faz-se referência à meta de 3,3% do PIB para o superávit primário, admitindo-se que seja reduzido em até 1,12 ponto porcentual, em razão dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas admite-se que, em 2011, se retorne, sem ajuste, ao patamar de 3,3% do PIB. Parece que isso foi um compromisso do presidente Lula com o presidente do Banco Central (BC) para conseguir um adiamento da elevação da Selic. As autoridades monetárias vão observar a possibilidade de atingir a meta de 2010, o que permitiria voltar à plena contenção dos gastos em 2011, embora o compromisso tenha sido assumido por um presidente que em 2011 não estará mais no poder.

Admitindo que se consiga cumprir a meta para 2010, existem outras hipóteses que poderão não se realizar. A taxa cambial poderá ser ligeiramente desvalorizada com as medidas tomadas pelo BC, o que pode aumentar a pressão inflacionista e atrasar o processo de aumento dos investimentos produtivos. O Congresso, nesse período eleitoral, atua com certa irresponsabilidade para aumentar artificialmente o poder aquisitivo da população, elevando a pressão da demanda sobre os preços.

Não se pode imaginar que na próxima reunião do Copom não se decida por uma elevação da taxa Selic. Só uma mudança importante na composição dos membros do Copom poderá obstar a decisão. Seria uma violência contra a independência do BC.