Título: Banco Central não deu indicações de aumento do juro, diz Mantega
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2010, Economia, p. B3

Para o ministro da Fazenda, mercado entendeu errado as declarações do presidente do BC, Henrique Meirelles

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, em São Paulo, que não viu nenhuma indicação recente do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, de elevação iminente da taxa básica de juros (Selic). "Eu torço para que isso não aconteça", disse o ministro, após reunião com empresários na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Mantega disse ter saído do encontro com a certeza de que a indústria tem capacidade de atender ao aumento da demanda e, portanto, "está afastada a ameaça de inflação de demanda". Para o ministro, o mercado financeiro entendeu errado as declarações do presidente do BC e está "excitando" a economia. De acordo com ele, as taxas de juros futuros já subiram entre 3% e 4% nas últimas semanas, sem indicação de que a Selic vá de fato ser elevada.

"Quem decide se vai ter aumento ou não do juro é o Banco Central, e ele só vai elevar o juro se houver risco de que a meta de inflação não seja alcançada", disse Mantega. "Eu não vejo nenhuma ameaça iminente de alta de juro naquilo que foi dito pelo presidente Meirelles. Eu não posso garantir nada, só estou dizendo que estou tranquilo porque até agora a trajetória é sustentável."

Mantega lembrou que o BC já tomou uma medida, que foi o aumento do compulsório. "Acabou de tomar uma medida, retirando R$ 71 bilhões de circulação, o que reduz um pouco a liquidez no mercado", reforçou.

O ministro disse que está preocupado com o aumento dos juros futuros porque, "quando sobe o juro futuro, já subiu o custo financeiro no País". Ele disse que não há razão nenhuma para essa elevação, uma vez que o BC tem dado a sinalização correta. "Há muita especulação no mercado; quem diz que o juro vai subir não é o BC."

Para Mantega, a economia brasileira tem condições de crescer este ano pelo menos 5% com o cumprimento da meta de inflação. Na avaliação do ministro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano deve ficar próximo da meta de 4,5%, "um pouquinho para mais, um pouquinho para menos".

"Não devemos nos impressionar com a inflação de janeiro e fevereiro, pois ela sempre é mais alta por causa de fatores sazonais", disse o ministro, citando os preços das mensalidades escolares e do transporte público, que normalmente são reajustados no início de cada ano. Além disso, houve excesso de chuvas, o que elevou o preço dos produtos hortifrutigranjeiros. "A inflação deu 0,75% em janeiro e em fevereiro ainda vai ficar um pouco alta, mas em março já volta para 0,30% ou 0,35% e daí para a frente caminha no leito correto."

O ministro contou que, na reunião com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e integrantes do Conselho Superior Estratégico da entidade, o tema central da discussão foi a capacidade do setor de atender ao crescimento da demanda, que deve ficar entre 7% e 7,5% este ano.

"Não há possibilidade de inflação de demanda no caso da produção industrial", disse o ministro. "Eu diria que a mesma coisa acontece do ponto de vista da agricultura, que está em perfeitas condições para atender à demanda por alimentos e matérias-primas que acontecerá em 2010, acrescentou Mantega.