Título: Aliado que livraria governador pode ficar com o cargo
Autor: Pires, Carol
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2010, Nacional, p. A13

Wilson Lima chegou à presidência da Câmara para manobrar a favor de Arruda, mas prisão ocorreu antes

Amigo do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, o deputado distrital Wilson Lima, eleito pelo PR, usou do bom trânsito entre os colegas para ser içado, no início do mês, a presidente da Câmara Legislativa com votos de 17 dos 24 parlamentares. Com a missão de manobrar a favor do governador nos processos de impeachment, Lima não teve tempo de agir.

Arruda foi preso pela Polícia Federal e o governador em exercício, Paulo Octávio, sem sustentação política, pode renunciar. A missão de Lima, agora, pode ser maior que o previsto. Ele é o próximo na linha sucessória do governo do Distrito Federal.

Considerado afável e simpático pelos colegas, Wilson Lima recebeu dos colegas o apelido de deputado ursinho. "O Wilson Lima é muito amável no trato pessoal, sim, mas essa amabilidade não se sobrepõe aos mandos do governador", pondera a deputada Érika Kokay (PT).

A petista conta que antes da crise política assolar o DF, certa vez o deputado mandou cortar das notas taquigráficas um discurso no qual ela chamou Arruda de "governador de plástico". "Ele disse que Arruda era de carne e osso e era governador dele. Mandou cortar meu microfone e apagou meu discurso das notas. A fidelidade dele é canina."

A lealdade que Lima dedica a Arruda era, outrora, oferecida ao ex-governador Joaquim Roriz (PSC), de quem foi subsecretário de Alimentação e Promoção Social, em 2002. "Na política você tem que escolher entre dois lados: ou você é oposição ou é situação. Terceira via não existe", teoriza Lima, que ainda não admite a possibilidade de assumir o governo. "Eu vivo um dia de cada vez. E, além disso, ainda temos um governador no cargo. Não é delicado falar sobre isso agora", declara.

A opinião sobre a possível escalada de Lima - de deputado distrital a governador do DF - é divergente entre os deputados distritais. Eliana Pedrosa (DEM) avalia que dez meses de governo é pouco tempo para o deputado se inteirar dos programas de governo e dar continuidade à gestão de Arruda com êxito. "O Paulo Octávio tem um perfil mais centrado e está empenhado em construir a governabilidade."

Chico Leite (PT) diz, em contrapartida, que Lima teria mais capacidade de reunir sustentação política do que o governador em exercício. "O Paulo Octávio é citado no inquérito da Operação Caixa de Pandora como beneficiário do esquema, o Wilson Lima, não. Isso já é um ponto favorável", afirma.

Aos 56 anos, Lima é goiano de Ceres e mora no Gama, cidade-satélite de Brasília, desde 1968. Quando jovem, quis ser padre. Começou a trabalhar vendendo picolé na rua, virou frentista, foi mecânico, lanterneiro e pintor.

Passou de açougueiro a balconista, de vendedor de sapatos a cobrador de ônibus e foi dono de supermercado. Casado há 31 anos, tem quatro filhos e quatro netos e outro apelido: peixe folha, espécie que se finge de folha morta e abocanha as presas ainda vivas, codinome criado pelo próprio Lima.