Título: Planalto vê potencial explosivo
Autor: Vera Rosa; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2008, Economia, p. B6

Auxiliares de Lula avaliam que denúncias do caso Varig podem provocar crise maior que a dos cartões corporativos

O governo avalia que as denúncias sobre a venda da Varig feitas pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu têm potencial para provocar uma crise maior do que o escândalo do dossiê preparado na Casa Civil com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar das declarações de ministros que tentam jogar água na fervura, o clima no Palácio do Planalto é de preocupação.

Todo o esforço do governo é para blindar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - a favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sua própria sucessão, em 2010 -, que, mais uma vez, está na linha de tiro.

Depois de conseguir escapar ilesa da CPI dos Cartões Corporativos, enterrada pelo Congresso, Dilma agora se prepara para a batalha com Denise Abreu. O Planalto procura carimbar a ex-diretora da Anac como uma pessoa ¿ressentida¿ e evitar que as acusações atinjam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de apontar a metralhadora para Dilma, Denise provocou a ira de Lula, ao afirmar que o advogado Roberto Teixeira pressionou os diretores da Anac para aprovar a venda da VarigLog ao fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros.

Teixeira é amigo e compadre de Lula. Sempre que é citado como homem que faz tráfico de influência, o presidente demonstra profunda contrariedade.

¿Não podemos acusar quem entra no Palácio de estar fazendo tráfico de influência¿, rebateu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Lula foi informado sobre o teor explosivo das denúncias em reuniões realizadas desde quarta-feira. A partir de então, os ministros da coordenação política do governo foram orientados a destacar, em entrevistas, a importância das declarações do juiz Luiz Roberto Ayoub, coordenador do processo de recuperação judicial da Varig. Motivo: Ayoub qualificou as negociações para a venda da Varig e da VarigLog como ¿atos jurídicos perfeitos e acabados¿.

O discurso oficial é o de que o governo está ¿tranqüilo¿ em relação ao episódio porque não houve pressão da Casa Civil sobre ninguém nem injeção de dinheiro público na operação. No Planalto, Denise é vista como uma pessoa que cria problemas e age movida por interesses particulares.

Amigos de Dilma juram que ela foi indicada para o cargo pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Ele nega, mas afirma que aprovou a indicação por conhecê-la há muito tempo.

Um auxiliar do presidente Lula disse ao Estado que a relação com a advogada ¿nunca foi boa¿. Em conversas reservadas, interlocutores do presidente garantem que é impossível fazer acordo com Denise Abreu como foi feito com José Aparecido Nunes Ferreira, o ex-secretário de Controle Interno acusado de vazar o dossiê produzido na Casa Civil com despesas de Fernano Henrique.

José Aparecido foi à CPI e assumiu sozinho a responsabilidade pela crise, inocentando Dilma e a secretária-executiva, Erenice Guerra.

Em troca, obteve a garantia de que sua punição na Casa Civil não passará de infração administrativa e retomou suas atividades no Tribunal de Contas da União (TCU). O governo considera, porém, que a crise pode se prolongar com Denise em seu encalço.

A primeira estratégia dos aliados foi tentar abafar a convocação de todos os diretores da agência, mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), convenceu o Planalto de que era melhor ceder para evitar mais desgaste e a impressão de que se estava tentando esconder algo.

A atitude de Jucá causou mal-estar no PT. Dilma permaneceu calada. Chamada por jornalistas que queriam entrevistá-la, a ministra deixou ontem a cerimônia para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente antes mesmo de Lula, o que não é habitual.

ÁGUA NA FERVURA

Paulo Bernardo Ministro do Planejamento

¿Não se pode acusar quem entra no Palácio (do Planalto) de tráfico de influência¿

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