Título: 24 mil entram em férias coletivas por causa da greve dos auditores
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2008, Economia, p. B4

Movimento, que já dura 40 dias, prejudica principalmente empresas de eletroeletrônicos

A greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que completa hoje 40 dias, já forçou vários fabricantes de equipamentos de telecomunicações, computadores e automação industrial, entre outros, a dar férias coletivas a mais de 24 mil trabalhadores. O número representa 15% da força de trabalho do setor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o valor dos insumos importados que estão parados à espera de liberação nos portos e aeroportos do País chega a US$ 500 milhões.

¿Os prejuízos com redução da produção, perda de faturamento e multas por atrasos nos contratos já somam R$ 150 milhões¿, afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee.

A greve começou no dia 18 de março. A categoria reivindica do governo a equiparação dos salários do auditor com os pagos aos delegados da Polícia Federal e procuradores federais da Advocacia-Geral da União. Com isso, o salário inicial de um auditor saltaria de R$ 10 mil para R$ 14 mil e o topo de carreira passaria de R$ 13,5 mil para mais de R$ 19 mil.

Há cerca de uma semana, os fiscais resolveram trocar a greve pela operação-padrão. Eles voltaram ao trabalho, mas a situação ainda é caótica nas principais portas de entrada do País, porque o ritmo de trabalho é lento e os espaços nos terminais de cargas estão praticamente esgotados.

O presidente da Abinee cobra do governo maior sensibilidade para negociar com os auditores. ¿A paralisação está comprometendo significativamente a produção e o desempenho da indústria.¿ Segundo ele, nos últimos três anos, as greves e operações-padrão de funcionários públicos federais da área de comércio exterior paralisaram as aduanas brasileiras, em média, 150 dias por ano.

A situação é mais grave no setor eletrodomésticos e produtos de imagem e som, cujo ciclo de produção é menor que o dos equipamentos pesados. No Pólo de Manaus, onde estão as principais fábricas do setor, o valor das importações dos insumos retidos nas alfândegas atingiu US$ 200 milhões .

Atualmente, 17 indústrias de diferentes setores estão com algumas linhas de produção paralisadas na Zona Franca por falta de componentes importados. Cerca de 11 mil trabalhadores estão em licença remunerada ou permanecem nas empresas sem o que fazer.

De acordo com Wilson Périco, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Amazonas (Sinaes), as empresas de Manaus deixaram de produzir e faturar R$ 1 bilhão desde o início da greve. Isso representa 22% do faturamento médio mensal do Pólo Industrial, da ordem de R$ 4,5 bilhões.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, Valdemir Santana, diz que a greve dos auditores fiscais prejudica os trabalhadores da Zona Franca. ¿Somos a favor do movimento, mas eles poderiam fazer uma greve inteligente, para não atrapalhar outros companheiros que querem trabalhar e serão obrigados a fazer hora extra.¿ Segundo ele, desde o início da greve, 350 metalúrgicos já foram demitidos por duas empresas do setor.

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