Título: BC aponta riscos para inflação em 2008 e 2009
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2008, Economia, p. B6

Ata da reunião do Copom confirma temor e justifica alta da taxa Selic

Sérgio Gobetti

O Banco Central confirmou ontem a posição conservadora e preventiva na condução da política monetária ao justificar o aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros da economia, a Selic. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) explicita uma deterioração dos cenários inflacionários para este ano e para 2009. O Copom, no entanto, garante que essa alta dos juros, acima do nível esperado pelo mercado financeiro, não vai comprometer o ritmo de crescimento porque a atividade econômica continua fortemente impulsionada pela oferta de crédito, expansão da massa salarial e pelos chamados 'impulsos fiscais', ou seja, os gastos do governo.

No texto divulgado ontem pelo BC, são vários os alertas sobre os riscos 'relevantes' para a inflação. 'Nas atuais circunstâncias, existe o risco de que os agentes econômicos passem a atribuir maior probabilidade de que as elevações da inflação sejam persistentes', diz a ata. E, nesse ponto, a autoridade monetária reafirma a necessidade de agir preventivamente para evitar que pressões localizadas sobre os preços de alguns produtos possam se disseminar na economia.

A deterioração dos cenários de mercado e do próprio BC - que apontam a inflação acima da meta - levou os analistas a questionar se o Copom realmente já realizou a 'parte relevante' do ajuste da taxa Selic necessário para trazer a inflação para a meta de 4,5% ao ano, como citou no comunicado da semana passada e reafirmou ontem, na ata.

O diretor-executivo do Unibanco, Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, acredita que a atuação do Banco Central é justificada porque 'o custo de estar errado' na política monetária é alto, e se a autoridade monetária não agisse preventivamente nesse momento poderia ter que elevar a Selic em um nível mais elevado depois.

Já o diretor da Área de Crédito do Banco Itaú, Sérgio Werlang, acredita que 'o Banco Central não está fazendo a coisa certa'. Em sua avaliação, não tem problema a inflação estar acima do centro da meta, 'desde que fique dentro da banda do sistema de metas'.

Além das pressões internas sobre a inflação, o BC também destaca as pressões de fora, em especial a subida dos preços do petróleo no mercado internacional. Formalmente, o Copom prevê que os preços da gasolina no Brasil permanecerão inalterados em 2008, apesar de admitir que 'a probabilidade de se configurar um cenário alternativo vem aumentando'.

Mesmo que a Petrobrás não aumente os preços da gasolina, como está sendo especulado, o BC avalia que a alta internacional no preço do barril de petróleo deve se transmitir à economia brasileira tanto por meio de cadeias produtivas (que usam derivados de petróleo, como o setor petroquímico), quanto pela deterioração das expectativas de inflação dos agentes econômicos.

'A prudência passa a ter papel ainda mais importante, nesse processo, em momentos como o atual, caracterizado pela deterioração da dinâmica inflacionária corrente e esperada', afirma a ata.

CRÍTICAS

Nas entrelinhas, a ata também tenta responder às críticas de que o aumento dos juros poderia ter sido prematuro e iria comprometer a boa fase de crescimento da economia brasileira. Ao agir em defesa da 'estabilidade inflacionária', segundo o BC, ele estaria defendendo os ganhos de renda ocorridos no período recente e mantendo um ambiente macroeconômico favorável a investimentos em 'horizontes mais longos'.

'Ao permanecer pronto para atuar enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, o Comitê entende que está, de fato, contribuindo para a sustentação do crescimento', diz a ata.

OS PRINCIPAIS PONTOS

Aviso: ¿O Copom conduzirá suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação em anos recentes sejam permanentes.¿

Alerta: ¿São relevantes os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA seguiria evoluindo de forma consistente com a trajetória das metas.¿

Gasolina: ¿O cenário adotado pelo Copom prevê preços domésticos da gasolina inalterados em 2008, ainda que a probabilidade de se configurar um cenário alternativo venha aumentando.¿

Comportamento preventivo: ¿A prudência passa a ter papel ainda mais importante, nesse processo, em momentos como o atual, caracterizado pela deterioração da dinâmica inflacionária corrente e esperada.¿

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