Título: Ações da Oi e BrT desabam na Bolsa
Autor: Ciarelli, Mônica; Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Economia, p. B17

No primeiro pregão após anúncio da venda, papéis caíram mais de 10% e já há cobrança por mudanças no acordo

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No primeiro pregão da bolsa depois do anúncio da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi, as ações das duas empresas despencaram na bolsa - as ações ordinárias (com direito a voto) da Oi, por exemplo, caíram 11,26%. Para analistas, as quedas refletem a realização de lucro de investidores que decidiram se desfazer dessas aplicações depois do anúncio, alguma incerteza sobre a aprovação por parte dos órgãos competentes e até mesmo dúvidas com relação à negociação dos papéis da nova empresa.

Segundo o analista Carlos Constantini, da Unibanco Corretora, o mercado não viu com bons olhos a relação de troca estabelecida entre as ações. De acordo com o analista, essa relação foi calculada com base nos 90 dias anteriores ao acordo, quando o mercado ainda não sabia que a operação incluiria o pagamento de R$ 3,9 bilhões em dividendos extras, R$ 3,6 bilhões na compra de um terço das ações preferenciais e outros R$ 9,3 bilhões na compra do controle o no tag along - que consiste no direito dos minoritários de receber por suas ações um valor próximo ao que foi pago aos controladores, caso haja mudança no bloco de controle.

¿O acionista da BrT vai entrar em uma empresa que acabou de gastar R$ 17 bilhões e, por isso, tem um potencial muito menor de pagar dividendos¿, afirmou. Outro analista, que preferiu não se identificar, explica que, provavelmente, investidores que costumam especular com grandes negócios aproveitaram o momento para vender suas ações e realizar lucro. ¿Eles compram no rumor e vendem no fato. É altamente especulativo¿, comentou.

Ontem, além da queda de 11,26% nas ordinárias, as ações preferenciais (sem direito a voto) da Oi caíram 9,35%. Já a ação ordinária da BrT Participações caiu 3,36%, enquanto a preferencial recuou 0,68%.

A queda nos papéis reflete em parte a reação dos investidores a informações dadas pela Oi durante uma teleconferência. Segundo o analista, a Oi informou que iria listar as ações da operadora na Bolsa de Nova York - onde a holding já é listada. ¿Isso divide a liquidez, o investidor fica em dúvida sobre que papel comprar¿, afirma ele.

MUDANÇA DE CONTROLE

Em seu primeiro encontro com analistas financeiros após o anúncio oficial da compra da BrT, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, precisou descartar com veemência a possibilidade de a operação resultar em uma mudança no bloco de controle. O tema, alvo de vários questionamentos dos analistas, preocupa porque pode encarecer a operação, já orçada em cerca de R$ 12,4 bilhões.

Isto porque, se a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entender que houve uma mudança no bloco de controle, a empresa terá de oferecer aos demais acionistas detentores de ações ordinárias, em oferta pública, 80% do valor pago por ação aos controladores - o tag along.

¿Não vemos o menor risco de isso acontecer¿, afirmou Falco. Segundo ele, a possibilidade de a operação ser interpretada como uma mudança no bloco de controle é tão remota que nem entrou no ¿radar¿ da companhia durante os meses em que foi negociada. Por isso, a Oi não tem um plano para financiar uma oferta de tag along para esses acionistas.

Enfático, o presidente da Oi explicou que a operação acarretou apenas uma reorganização entre os sócios que já participavam do bloco de controle. Lembrou que já houve casos semelhantes e que a CVM entendeu não haver mudanças.

O anúncio de um pagamento extra de dividendos no valor de R$ 3,896 bilhões foi outro ponto muito questionados pelos analistas financeiros durante a teleconferência. O bombardeio de perguntas se concentrou basicamente no momento da divulgação dos dividendos extras, que já vinham sendo cobrados pelo mercado há um bom tempo. Tanto Falco quanto o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da companhia, José Luiz Salazar, fizeram questão de ressaltar que a decisão levou em conta o caixa confortável da empresa.

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