Título: Amorim reage a ataques contra etanol
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2008, Economia, p. B1

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, elevou o tom das críticas aos biocombustíveis ao declarar ontem que eles representam ¿um problema moral¿ porque contribuem para a escassez de alimentos nos países pobres. A declaração de Strauss-Kahn amplia a polêmica criada após a afirmação do relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, na segunda-feira, para quem os biocombustíveis são ¿um crime contra a humanidade¿. As críticas de Strauss-Kahn foram rebatidas pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Deixando de lado o tom diplomático, Amorim disse que, se quiser contribuir para a produção de alimentos, o FMI deveria convencer Estados Unidos e União Européia a reduzir os subsídios a seus agricultores e a abrir mercados aos produtos dos países em desenvolvimento.

¿Se o FMI puder ajudar para que países africanos e países latino-americanos mais pobres possam produzir biocombustíveis que entrem sem barreiras nos países ricos, eles estarão ajudando a renda desses países, e é com renda que você obtém os alimentos¿, disse Amorim. Segundo o chanceler, as críticas de vários líderes mundiais à produção de biocombustíveis revelam ¿conclusões simplistas¿ ou acabam reforçando interesses protecionistas.

Strauss-Kahn disse ontem, em Genebra, que a alta dos preços dos alimentos, se continuar, pode provocar a queda de governos e até guerras. Ele chegou a defender uma moratória na produção dos biocombustíveis feitos com produtos destinados à alimentação. Em Brasília, onde participou da conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO), o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, disse que já havia alertado que a falta de alimentos pode resultar em aumento da violência mundial.

Amorim ressalvou que estava informado das críticas de Strauss-Kahn pela imprensa, e não conhecia os detalhes. Mas foi incisivo ao comentar a polêmica sobre alimentos e biocombustíveis. Ele defendeu o manejo responsável da atividade agrícola e distribuição da renda, para que os alimentos cheguem à mesa das populações dos países pobres. ¿Que me conste, o alimento não estava chegando ao pobre antes, e ninguém estava reclamando.¿

Para o ministro, a comunidade internacional deveria estar discutindo a eliminação de subsídios na agricultura européia e americana, responsáveis por sistemas de produção ineficientes. ¿Ninguém na África, que me conste, deixou de produzir alimentos para produzir biocombustíveis. Não produziam alimento e continuam sem produzir alimento porque os subsídios agrícolas da Europa e dos Estados Unidos impedem que isso ocorra.¿ O chanceler também reafirmou que, no Brasil, a produção de alimentos aumentou junto com a de etanol.