Título: Alta dos índices reforça aposta em elevação da Selic
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2008, Economia, p. B5

Para analistas, BC deve subir a taxa básica na reunião da próxima semana

Márcia De Chiara

O salto da inflação registrado em março por dois índices de preços divulgados ontem deverá ser mais um argumento usado pelo Banco Central (BC) para elevar a taxa de juros na reunião da próxima semana, avaliam economistas ouvidos pelo Estado. Eles também prevêem que os índices de inflação deverão continuar pressionados para cima neste segundo trimestre. O IGP-DI, que havia encerrado fevereiro com alta de 0,38%,quase que dobrou e subiu para 0,70% no mês passado. O Índice do Custo de Vida do Dieese aumentou 0,45% em março, após registrar deflação de 0,03% no mês anterior.

¿Esses dois índices são uma fotografia atrasada do auge da elevação das cotações das commodities que ocorreu em janeiro e fevereiro no mercado internacional¿, afirma o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. Além das commodities, o economista destaca a pressão de alta dos preços dos serviços, impulsionados pela massa de salários, como outro grupo responsável pela disparada dos índices em março.

Com projeções de que o IPCA, o índice oficial de inflação, atinja 0,40% e março e suba para 0,55% em abril, Silveira espera que tanto as commodities como os serviços continuem puxando a inflação para cima no segundo trimestre. ¿Algum alívio nos preços das commodities poderá ocorrer a partir de junho. A tendência de alta dos preços dos serviços não deve mudar de direção tão cedo.¿

Para o economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Elson Teles, a inflação medida pelo IPCA no segundo trimestre deste ano deverá superar a registrada no mesmo período do ano passado. Ele projeta um IPCA entre 0,90% e 1% no acumulado entre abril e junho. No segundo trimestre de 2007, a inflação no período medida pelo mesmo indicador foi de 0,81%.

¿O que mais preocupa é a pressão no atacado dos preços dos produtos industrializados¿, ressaltou Teles. Ele destacou a pressão dos produtos siderúrgicos, petroquímicos, do minério de ferro e produtos derivados que devem continuar nos próximos meses. No caso da siderurgia, que tanto preocupa o governo, o impacto da alta de preços ocorre em várias cadeias importantes, como a construção civil e a indústria automobilística, por exemplo. ¿Ocorre que as elevações de preços estão se disseminando em várias cadeias produtivas.¿ Além das commodities e das matérias-primas industriais, ele acrescenta o reajuste dos remédios marcado para este mês. ¿O governo já decidiu que vai aumentar os juros. Os índices de inflação podem ajudar a determinar o tamanho da alta¿, disse Teles.

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)da Fipe, Márcio Nakane, prevê que abril será um mês ¿carregado de pressões inflacionárias e deve acender o sinal amarelo¿. Entre essas pressões, ele aponta o aumento dos preços dos medicamentos, com alta de até 4,21%. Ele destacou também a pressão do álcool combustível, em razão do início do período de entressafra da cana-de-açúcar. ¿No IPC de março, o álcool combustível já subiu 1%¿, lembrou.

Outro fator de pressão da inflação neste mês apontado por Nakane é o preço dos artigos de vestuário, por causa da entrada da nova coleção. Ele observou também que a energia elétrica em São Paulo deverá impulsionar o índice por causa da cobrança do PIS/PASEP e da Cofins na conta de luz.

Segundo o economista, a alta dos serviços é outro foco de preocupação. Nos últimos 12 meses, os aumentos acumulados oscilam ente 5% e 5,5%. ¿As pressões inflacionárias não são mais altas localizadas¿, diz Nakane. Por isso, o governo tem mais argumentos a favor da elevação dos juros.

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