Título: Coreia diz estar perto de enriquecer urânio
Autor: Reuters;AP ;Efe
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2009, Internacional, p. A15

Pyongyang afirma que está pronto para o diálogo ou para sanções

SEUL

A Coreia do Norte anunciou ontem que está no estágio final do programa de enriquecimento de urânio, um processo que dará ao país comunista um segundo meio de fabricar armas nucleares. "Temos realizado com êxito os testes para enriquecer urânio e agora começamos a fase final", informou a agência oficial norte-coreana KCNA, citada pela agência sul-coreana Yonhap.

O regime de Kim Jong-il também revelou que está levando adiante o processo paralelo de extração de plutônio das barras de combustível nuclear de seu reator em Yongbyan. "O plutônio extraído está sendo transformado em armas", disse a delegação norte-coreana na ONU em uma carta ao Conselho de Segurança, segundo a KCNA.

A Coreia do Norte destacou que está preparada "tanto para o diálogo quanto para sanções", mas disse que se o Conselho de Segurança apostar na segunda opção, responderá impulsionando sua capacidade nuclear.

Durante anos o regime de Pyongyang negou ter um programa de enriquecimento de urânio, mas em junho confirmou oficialmente que havia iniciado o processo, em resposta às sanções da ONU pelo teste nuclear de maio. Diante das constantes suspeitas dos EUA sobre seu programa de enriquecimento de urânio, Pyongyang sempre admitiu avanços na extração de plutônio, um processo fácil e barato, com o qual realizou dois testes nucleares em 2006 e este ano.

O anúncio ocorre após o regime comunista indicar que estaria disposto a um diálogo direto com os EUA sobre seu programa nuclear e ter reduzido as tensões com a Coreia do Sul, por meio da reabertura da fronteira entre os dois países. O governo sul-coreano qualificou de "intolerável" o anúncio de Pyongyang e disse "lamentar profundamente" a atitude do país vizinho.

NEGOCIAÇÕES

Está prevista para hoje a chegada a Seul do enviado especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Bosworth, que na quarta-feira viajou à China para avaliar os meios de retomar as negociações com Pyongyang sobre seu programa nuclear.

Os EUA dizem que estão dispostos a conversar com a Coreia do Norte, mas somente no marco das negociações entre seis partes - das quais participam, além das duas Coreias, Japão, Rússia e China -, paralisadas em dezembro. Sobre as conversações, Pyongyang voltou ontem a expressar sua oposição ao processo que, segundo ele, foi utilizado contra a Coreia do Norte. No entanto, destacou que nunca se opôs à desnuclearização da Península Coreana nem do mundo.

"Se o Conselho de Segurança da ONU continuar com esse impasse, sem fazer um julgamento apropriado sobre qual caminho é o mais adequado para a desnuclearização da península e do mundo, a Coreia do Norte não terá outra opção a não ser adotar medidas mais fortes de autodefesa, como já advertiu", disse a carta enviada à ONU.

MANOBRAS DE PYONGYANG

Por que a Coreia do Norte mudou inesperadamente de tom?

O anúncio de Pyongyang não significa o fim de seu atual ciclo de aproximação, mas serve como lembrança de que o regime pode rapidamente voltar às provocações se sentir que suas aberturas foram rejeitadas. A Coreia do Norte quer pressionar a comunidade internacional a reverter as punições.

Por que Pyongyang está buscando uma aproximação com a Coreia do Sul?

A razão mais óbvia é dinheiro. A economia do empobrecido país, estimada em US$ 17 bilhões ao ano, foi arruinada por anos de má administração, sanções econômicas, as fortes chuvas deste ano que afetaram o setor agrícola, e a perda de ajuda de Seul, que chegou a totalizar US$ 1 bilhão ao ano. A Coreia do Norte poderá obter dezenas de milhões de dólares até o fim do ano se retomar o turismo e os projetos econômicos com o Sul.

Por que o governo norte-coreano tenta se aproximar dos EUA?

A Coreia do Norte espera manter conversações diretas com os EUA sobre seu programa nuclear e reduzir a pressão de Washington para a adoção de novas sanções na ONU. O governo de Barack Obama indicou que não cederá em nenhum desses pontos, mas permitirá conversações bilaterais paralelamente às negociações entre seis partes.