Título: Agnelli diz que Vale chegou ao limite na oferta pela Xstrata
Autor: Brandão Junior, Nilson; Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2008, Negocios, p. B22

Executivo diz que a Xstrata não é prioridade e descarta abrir mão do direito de venda do minério

O presidente da Vale, Roger Agnelli, mandou ontem um recado direto para a Glencore, principal acionista da Xstrata: a companhia brasileira já chegou ao limite na proposta de compra da mineradora anglo-suíça e o desfecho do negócio está agora nas mãos de sua controladora. Apesar do aviso, Agnelli não deixou de destacar as vantagens do negócio para os acionistas das duas companhias. Mas, ressaltou que a prioridade da Vale são seus projetos de investimentos e o chamado ¿crescimento orgânico¿, ou seja, no aumento de capacidade de produção.

¿Toda a lógica diz que tem uma combinação muito boa (entre as duas mineradoras) mas tem limite. E a esse limite nós já chegamos. Então, agora, é questão de eles decidirem o que eles querem fazer¿, afirmou Agnelli, sem entrar em detalhes sobre a proposta feita à Xstrata. O próprio executivo tomou a iniciativa de abordar o assunto, logo após a apresentação dos resultados financeiros de 2007, durante a coletiva de imprensa.

IMPASSE

Agnelli, que tem comandado pessoalmente as negociações, fez questão de deixar claro que não é o preço o único motivo do impasse nas negociações. ¿Não é só preço. A questão toda é de alguns princípios (de estratégia) que você tem de como tocar o negócio. E quando você bate numa questão de princípio eu acho que todo mundo tem limite. Acho que a Glencore tem o limite dela, respeitamos, entendemos, é uma empresa de extraordinário sucesso. Os acionistas da Xstrata têm o limite deles, que fundamentalmente é preço. Para nós é preço e questão de princípios¿, afirmou.

Na última quinta-feira, o jornal Financial Times informou que o acordo para a compra da Xstrata estaria perto de fracassar porque a Glencore, dona de 35% das ações da mineradora anglo-suíça, estaria querendo estender os direitos sobre a comercialização de produtos que já detém com a Xstrata para minerais e metais da Vale. No mercado, circulou a versão de que a Vale teria inicialmente proposto pagar 40 libras por ação da Xstrata (num total de US$ 76 bilhões), valor que teria subido para 45 libras (US$ 85 bilhões), e que parte do negócio seria pago em ações preferenciais.

Agnelli evitou entrar em detalhes sobre as exigências da Glencore e falou conceitualmente sobre a negociação. ¿Quando você fala em comercialização, quando você fala em algumas coisas, é questão de visão de negócio, questão de estratégia de negócios. Eu diria que o ponto maior está aí. Qual a visão de negócios¿, limitou-se a dizer.

Perguntado se a Glencore, uma das maiores tradings do mundo, estaria exigindo fazer a comercialização do minério de ferro, Agnelli respondeu que isso não foi pedido e que a Vale não aceitaria.

Agnelli deixou claro que o foco está nos projetos de expansão da companhia. A Vale tem investimentos previstos de US$ 59 bilhões até 2012. A empresa estima que vai gerar 62 mil empregos nesse período. Anteontem, a companhia divulgou lucro de R$ 20 bilhões e receita de R$ 66,4 bilhões em 2007.

¿Quero deixar claro o seguinte. Isto não é prioridade para a Vale. A prioridade é tocar seus projetos e em qualquer conta que a gente possa vir a fazer é mais barato a gente tocar os nossos projetos¿, afirmou. Agnelli afirmou, ainda, que embora a prioridade da Vale seja seus investimentos a empresa também conversa sobre outras empresas. Mas não fez nenhuma outra proposta.

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