Título: Acordo racha oposição, que ameaça obstruir Senado por cargo em CPI
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2008, Nacional, p. A4

Os partidos de oposição no Senado passaram o dia de ontem insistindo em indicar o presidente da futura Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que será criada para investigar o mau uso dos cartões corporativos. A oposição decidiu pleitear um dos cargos de comando - a relatoria ficará com um deputado do PT - para não ser acusada de patrocinar uma ¿CPI chapa-branca¿. Caso o governo não aceite compartilhar os postos-chave da comissão, o DEM e o PSDB ameaçam obstruir todas as votações no Senado.

¿Não é com faca no pescoço, não é com imposição que vamos chegar a um entendimento¿, ponderou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Em conversas reservadas, ele defendeu um acordo em torno da chefia dos trabalhos. Sua proposta conta com o aval do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). ¿Sou favorável a que se dê um cargo para a oposição. Acho que a CPI só vai funcionar assim¿, disse Garibaldi. ¿Os desentendimentos sobre a CPI não vão parar o Senado. Isso eu garanto a vocês.¿

Se o governo concordar com que a oposição fique com a presidência, o cargo será ocupado por um senador tucano. Um dos nomes cotados é o da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), considerada uma parlamentar ¿equilibrada¿. ¿O entendimento é o melhor sistema para todos. Há chances de a oposição ficar com um cargo. Mas não pode ser ninguém espalhafatoso para presidir a CPI. Tem de ser uma pessoa equilibrada¿, frisou o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

As dificuldades para chegar ao consenso, porém, eram grandes. O governo não concorda em abrir mão do comando total da comissão, principalmente o PT e o PMDB do Senado. Os dois partidos se posicionaram radicalmente contra a possibilidade de ceder a presidência para a oposição. E, com a relatoria assegurada, os petistas já tratavam ontem de alavancar o nome de seu ex-líder na Câmara Luiz Sérgio (RJ) para ocupar o posto.

¿Não abro mão de indicar o presidente da CPI. O PMDB do Senado abriu mão de várias coisas antes, como a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e da Comissão de Assuntos Econômicos¿, alegou o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), que indicou logo pela manhã o senador Neuto de Conto (SC) para o posto. ¿Não temos de ser bonzinhos. Temos de ser regimentais. O justo é que o cargo fique com o PMDB¿, assinalou o senador Tião Viana (PT-AC).

¿O PSDB e o DEM cobram respeito ao que representam numericamente nesta Casa¿, argumentou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), ao insistir que a presidência da CPI fique com a oposição. A alegação é de que os dois partidos formam um bloco com 28 senadores (15 do DEM e 13 do PSDB), ante os 19 do PMDB.

¿Aceitamos uma investigação que começa agora e termina em 1998. Fazemos isso até para não dar pretexto para melar essa CPI. Não queremos nada que cheire a pizza¿, afirmou Virgílio. A oposição, aliás, passou o dia todo tentando negar um acordo com o governo para instalar uma comissão que não investigasse nem os gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com os cartões.

¿Se não chegarmos a um entendimento, a decisão é obstruir as votações¿, destacou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

A obstrução não tem data marcada para começar. Em reunião ontem no fim da manhã entre governistas e oposicionistas ficou acertada a votação, à tarde, de três projetos de lei. ¿Cedemos em votar hoje (ontem) três propostas. Amanhã será outro dia¿, observou Maia.

A expectativa é de que o recolhimento de assinaturas para a CPI só termine na próxima semana. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), estaria recomendado aos governistas não assinar o pedido. Jucá foi convocado às pressas para um almoço no Palácio do Planalto com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), e os líderes aliados da Câmara para explicar o porquê da CPI.

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