Título: Em 3 minutos, Masp perde Picasso e Portinari avaliados em R$ 100 mi
Autor: Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2007, Metropole, p. C3

Ação ocorreu às 5h09, três dias após bandidos tentarem entrar com maçarico pelos fundos do museu

Foi fácil, simples e barato. Os ladrões que furtaram um Picasso e um Portinari avaliados em US$ 55,5 milhões (em torno de R$ 100 milhões) gastaram cerca de R$ 220 para comprar um macaco hidráulico, um pé-de-cabra e uma marreta. Eles deram muitos avisos de que estavam decididos a levar os quadros. O ataque de ontem foi o terceiro desde 29 de outubro. Naquele dia, falhou a tentativa dos bandidos de entrar no museu armados com revólveres. Há três dias, eles usaram um maçarico em uma porta dos fundos, mas os ladrões fugiram depois de avistados pelos vigias. Os fracassos não os fizeram desistir. E, em vez de reforçar a segurança, o Masp resolveu desligar seu alarme.

Assim, às 5h09 de ontem, eles não precisaram de armas de fogo para dominar vigias ou driblar sistemas de segurança modernos. Entraram no Masp como antigos arrombadores: à noite, aproveitando descuido da segurança. Com pé-de-cabra e macaco, forçaram a placa de ferro que fechava a escada que, do vão livre, dá acesso ao prédio. Subiram dois lances de escada e usaram a marreta para quebrar o vidro que fechava o salão do acervo permanente. Pegaram os quadros e saíram. Tudo em três minutos.

Deixaram para trás o pé-de-cabra, o macaco e um fone de ouvido. ¿Acreditamos que o bando que levou os quadros é o mesmo que tentou entrar antes no museu¿, disse o delegado Marcos Gomes de Moura, do 78º DP. No dia 29, os bandidos chegaram às 6 horas. Dois homens disfarçados de vigias dominaram os seguranças Francisco das Chagas e Odillon de Souza e perguntaram onde era o elevador. Queriam chegar ao acervo, no 2º andar. Os seguranças disseram que não tinham as chaves das portas das salas. Os ladrões não desistiram. Ao tentarem forçar a entrada, o alarme disparou. Eles fugiram.

Na época, a polícia desconfiava de um ataque ao acervo ou à bilheteria. Há três dias, os bandidos do maçarico fugiram pela Avenida 9 de Julho, depois de flagrados pelos vigias. A ação não foi registrada em boletim de ocorrência, e a polícia só tomou conhecimento dela ontem, depois do furto das telas.

Para a polícia, há indícios de que o crime foi encomendado. ¿Eles foram direto no Portinari (O Lavrador de Café, avaliado em US$ 5,5 milhões) e no Picasso (Retrato de Suzanne Bloch, que vale US$ 50 milhões)¿, disse o delegado. No caminho, os ladrões passaram por quadros mais valiosos, como o Rosa e Azul, de Renoir, mas os deixaram para trás.

Os criminosos aproveitaram a troca de turno dos três vigias. Os da madrugada saíram dos postos antes que os da manhã chegassem. ¿É que já `tava¿ de dia¿, foi a explicação que um deles deu aos policiais. Quando se arrombou a placa de ferro que fecha a escada, não havia ninguém na sala de monitoramento das câmeras do museu para dar o alerta.

As imagens das câmeras mostram três bandidos, dois deles encapuzados, dentro do Masp. A polícia suspeita que um quarto ficou fora, dando cobertura - daí o fone de ouvido achado. Os vigias nada viram ou ouviram. Nem mesmo a marretada na porta de vidro do acervo permanente foi escutada. COLABOROU RODRIGO PEREIRA

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