Título: CPT apóia bispo em luta contra transposição do S. Francisco
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2007, Nacional, p. A17

Apesar da solidariedade, não existe unanimidade na Igreja sobre o projeto

A nova greve de fome do bispo d. Luiz Flávio Cappio, em protesto contra a transposição das águas do Rio São Francisco, deu outro alento à polêmica que envolve o projeto de quase R$ 5 bilhões - e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende inaugurar até 2010.

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O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organizações que reúnem bispos e padres da ala progressista da Igreja, manifestaram-se a favor do bispo e contra o projeto. Para eles, existem soluções melhores e de menor custo para a falta de água na região.

Do outro lado, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, afirmou que os críticos confundem a proposta do governo - que seria estruturante e voltada para a solução do problema de abastecimento de uma grande região - com projetos menores, para o atendimento de comunidades dispersas. ¿Uma coisa não anula a outra¿, disse. ¿Elas se completam.¿

O Cimi divulgou ontem uma nota na qual afirma que, ao contrário do que diz o governo, a obra ficará em torno de R$ 6,6 bilhões. Também diz que o problema poderia ser resolvido com a realização de um conjunto de 530 pequenas obras, sugeridas pela Agência Nacional de Águas (ANA), com um custo menor, de R$ 3,6 bilhões.

Apesar das manifestações de apoio ao bispo grevista, não existe unanimidade na Igreja a respeito da transposição. D. Aldo Pagotto, arcebispo da Paraíba, e d. Cristiano Krapf, da Diocese de Jequié (BA), só para citar alguns, são entusiastas da obra. Do outro lado, d. Mário Rino Sivieri, de Propriá (SE), e d. José Geraldo, de Juazeiro (BA), já manifestaram apoio às idéias do franciscano Luiz Cappio.

Esta é a segunda greve de fome que ele faz. A primeira, de onze dias, ocorreu em 2005.

A julgar pela reação do governo, a disposição do bispo de se sacrificar pelo São Francisco não causará mudanças no rumo das obras - tocadas pelo Exército. Segundo o ministro da Integração Nacional, estão abertas licitações para projetos de esgotamento sanitário em 170 municípios da região, num total de R$ 600 milhões. ¿Também foram iniciadas obras de desassoreamento e de recuperação das matas ciliares¿, garantiu. ¿Porque ninguém anuncia de boa-fé que estamos trabalhando na recuperação do rio, como prometemos?¿

Os partidários do bispo pretendem aproveitar o seu gesto extremado para tentar mais uma vez reverter o andamento do projeto. Ao lado da Capela São Francisco onde ele jejua, situada no bairro do mesmo nome na cidade de Sobradinho, já foi montada uma exposição de fotos que mostra a degradação do rio - que passa a três quilômetros dali.

Também começam a chegar romarias de pessoas que vão manifestar solidariedade ao bispo e participar das missas que ele pretende celebrar todos os dias, às 7 horas da noite, além da oração matinal do terço.

Um dos principais argumentos dos partidários de Cappio é que o projeto do governo beneficiará sobretudo grande projetos agroindustriais da região, em detrimento da população mais pobre. Segundo Geddel, que qualificou a greve de fome de ¿ato fundamentalista¿, não é ¿crime¿ atender empresas que geram empregos.

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