Título: Abbas e Olmert tentam paz em um ano
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2007, Nacional, p. A16

Líderes palestino e israelense concordam em Annapolis em iniciar conversações contínuas para alcançar acordo

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, comprometeram-se ontem a chegar a um acordo de paz até o fim de 2008. 'Concordamos em estabelecer negociações vigorosas e ininterruptas e faremos todo o esforço possível para concluir um acordo antes do fim de 2008', disseram Olmert e Abbas, em comunicado lido pelo presidente George W. Bush, anfitrião da reunião de Annapolis, a 50 quilômetros de Washington. A conferência reuniu 49 países e organizações, entre eles o Brasil - além de Síria e Arábia Saudita, que não reconhecem Israel.

O comunicado e a inclusão de um prazo para conclusão do acordo superaram as expectativas. 'Foi uma supresa os israelenses terem concordado com uma data, até segunda à noite os governos não haviam chegado a nenhum entendimento', disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim.

Israelenses e palestinos anunciaram a criação de um comitê de coordenação das negociações de paz, liderado por olmert e Abbas e supervisionado pelos EUA. Hoje Olmert e Abbas vão inaugurar formalmente as negociações na Casa Branca, a convite de Bush. Os dois voltarão a reunir-se no dia 12 e depois terão encontros a cada duas semanas. Segundo Bush, os dois governos continuarão a aplicar as determinações do chamado 'mapa da estrada', de 2003, até alcançar o acordo de paz.

'Para buscar o objetivo da existência de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e com segurança, concordamos em lançar imediatamente negociações bilaterais para concluir um acordo de paz que resolva todas as questões pendentes, incluindo as questões-chave sem exceção, conforme especificado em tratados prévios', disse o comunicado, resultado de dois meses de árduas negociações entre os governos palestino e israelense. O texto só foi concluído minutos antes do início da conferência.

Bush aproveitou para vincular a resolução da questão palestina ao problema do terrorismo: 'O momento é bom para as negociações porque está em curso uma batalha pelo futuro do Oriente Médio e nós não podemos deixar que os extremistas ganhem. Com seus atos de violência e desprezo pela vida humana, os extremistas tentam impor ao povo palestino uma perspectiva sombria - uma visão que se alimenta da desesperança para semear o caos na Terra Santa. Se essa visão prevalecer, o futuro da região será terror sem fim, guerra sem fim, sofrimento sem fim.'

Apesar do estabelecimento de um prazo - algo a que os israelenses resistiam -, Bush e Olmert não citaram em suas declarações os pontos-chave das negociações, como direito de retorno dos refugiados palestinos, o status de Jerusalém, a suspensão da construção de assentamentos israelenses. Essas são questões que começarão a ser negociadas a partir do dia 12. 'Nosso objetivo aqui em Annapolis não é fechar um acordo, é lançar negociações entre israelenses e palestinos', disse Bush. O ministro Amorim concordou: 'Não vamos ter ilusão, ainda há questões duras a ser enfrentadas.'

Abbas e Olmert têm uma tarefa difícil pela frente. Abbas só governa parte dos territórios palestinos, já que a Faixa de Gaza está em poder do grupo extremista Hamas. E Olmert está enfraquecido politicamente em Israel.

'Para todos os palestinos em Gaza, Jerusalém, Cisjordânia e campos de refugiados, posso dizer algumas palavras: não percam a esperança, pois o mundo está nos estendendo a mão hoje para ajudar a acabar com nossa tragédia', disse Abbas. Ele acrescentou que qualquer acordo de paz deve garantir que os palestinos recebam a parte oriental de Jerusalém (que, como a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, foi ocupada por Israel em 1967) e pediu o fim dos assentamentos.

'A hora é agora; estamos prontos', declarou Olmert. 'As negociações tratarão de todos os temas. Não fugiremos de nenhuma questão. Embora este seja um processo extremamente difícil, ele é inevitável.' O chanceler saudita, príncipe Saud al-Faisal, pediu na conferência a retomada de conversações de paz com a Síria e o Líbano.

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