Título: ANJ discute o futuro do jornalismo na internet
Autor: Ribeiro, Marili
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2007, Negócios, p. B15

Um dos principais desafios, segundo profissionais de comunicação, é como levar a credibilidade dos meios impressos para o mundo virtual

A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) promoveu um encontro ontem, em São Paulo, para discutir o futuro da relação entre os jornais e a internet. Embora ainda existam muitas dúvidas sobre qual será o peso de cada meio na veiculação de notícias, algumas tendências já estão claras para os profissionais de comunicação.

Uma das certezas é que os jornais preservam a credibilidade quase como uma marca registrada. O resultado aparece em pesquisas de opinião em que os veículos impressos são avaliados em comparação a outros meios, como rádio, televisão e internet. Outra certeza é que os canais online estão avançando rapidamente. O grande desafio é como levar a credibilidade dos jornais para a web.

Reunidos no seminário sobre a integração das redações online e offline - coordenado por Vaguinaldo Marinheiro, secretário de redação da Folha de S. Paulo -, os profissionais dos maiores jornais do País concordaram que a etapa inicial desse processo já está superada. A convivência dos meios tradicionais e virtuais para a divulgação de notícias vem se dando há dez anos, desde que os primeiros portais de informação entraram no ar.

¿Temos no horizonte que qualquer pessoa hoje em dia fica horas sentada à frente de um computador. Logo, é como se estivesse à frente de uma banca de jornais com toda a oferta disponível de informação¿, diz Marco Chiaretti, editor-chefe de Conteúdo Digital do Grupo Estado. Por isso, continua Chiaretti, é importante nesse momento desenvolver as habilidades e os recursos multimídias para explorar o potencial da internet de banda larga.

Entre os exemplos de portais de qualidade que convivem com edições impressas de padrão irrepreensível está, na avaliação de Chiaretti, o The Guardian, de Londres, que foi criado com uma linguagem em acordo com as demandas da internet.

Marta Gleich, diretora de Jornais Online do grupo gaúcho RBS, apresentou estudos que indicam que, até 2010, aproximadamente 18% das pessoas vão se informar apenas pela internet. Por isso, as receitas publicitárias hoje escassas na web tenderão a inverter posição. Hoje, no Brasil, a verba geral dos anunciantes em mídia online não chega a 3% do total.

Para enfrentar a nova realidade, Marta diz que as empresas jornalísticas têm que investir na internet e em uma mudança de cultura. Entre os exemplos do que pode ser mais explorado na versão online, está a produção fotográfica. No Washington Post, por exemplo, foi desenvolvido o slideshow, em que se pode veicular várias imagens de uma mesma seqüência, enquanto o jornal publica um número limitado de fotos. ¿A internet oferece recursos ilimitados que devem ser explorados.¿

Sobre a questão do uso ilimitado do que se põe no ar nos sites de notícias, a diretora-executiva da Folha Online, Ana Lucia Busch, diz que a edição do que se veicula deve priorizar critérios editoriais em qualquer versão, seja online ou offline. ¿É um risco querer publicar tudo¿, diz. ¿O que existe é jornalismo bem feito, seja em que plataforma for.¿

Para Ana Lucia, há alguns mitos do jornalismo na web que precisam ser combatidos, entre os quais está a defesa do texto curto. Ana Lucia diz que o que prende a atenção do leitor é a qualidade do texto. Outra idéia muito difundida seria a tese de que jornalismo na internet é barato. ¿Fazer um produto de qualidade requer bons profissionais, e isso custa caro.¿

Em busca da participação do leitor, dizem Raquel Almeida, editora-executiva do Globo Online, e Josemar Gimenez, diretor de Redação do Estado de Minas e do Correio Braziliense, estão as os recursos que cada veículo busca estimular em seus portais. Raquel e Josemar participaram do painel ¿Jornal agora faz áudio e vídeo?¿, coordenado por Roberto Gazzi, editor-chefe do Estado de S.Paulo.

¿Ainda temos que vencer desafios para termos qualidade digital no mesmo padrão que temos em termos de credibilidade nas edições impressas¿, diz Gimenez.

No site do O Globo Online, conta Raquel Almeida, os investimentos em treinamento da equipe para usar recursos multimídia, como produção de vídeos, acontecem desde 2004. ¿Hoje temos uma média semanal de 90 vídeos produzidos para o site¿, conta ela.