Título: Em depoimento, gráfico assume papel de laranja
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2007, Nacional, p. A11

Bandeira admite ter produzido notas fiscais frias que teriam sido usadas para desviar verbas

José da Silva Bandeira, de 43 anos, gráfico desempregado, assumiu perante o Ministério Público de Mato Grosso do Sul o papel de laranja do esquema de produção de notas fiscais frias que teriam sido usadas em larga escala para suposto desvio de verbas de publicidade nos últimos dois anos do governo Zeca do PT, em 2005 e 2006.

Bandeira afirmou que o empresário Hugo Sérgio Siqueira Borges o fez assumir formalmente a direção da Apoio Comunicação Total Ltda., constituída apenas para emissão de recibos forjados. Em troca, ganhava R$ 800 mensais.

O Ministério Público suspeita que os documentos inidôneos foram usados na cobertura de operações fictícias de contratação de agências de propaganda com recursos do governo de Mato Grosso do Sul.

A promotoria estima que cerca de R$ 30 milhões podem ter sido desviados naquele período. Seu alvo maior é Zeca do PT, que durante 8 anos, de 1999 a 2006, governou o Estado.

O Ministério Público supõe que a fraude da publicidade teria abastecido caixa 2 e o mensalão do Zeca, que é como os promotores de Justiça rotularam pagamentos em espécie que teriam sido realizados a apaniguados do ex-governador.

FORNECEDOR

Hugo Sérgio Siqueira Borges, proprietário da Sergraph Editora Quatro Cores, é apontado pela promotoria como o ¿noteiro¿ da fraude. A ele caberia a missão de reunir e fornecer notas fiscais à medida que o Tesouro estadual liberasse verbas para as agências. À Justiça, a promotoria apresentou duas denúncias criminais contra Borges, acusando-o por falsificação de documento.

Ele cobrava de 12% a 17% sobre o valor de nota emitida, sustenta a promotoria. Entre 5% e 10% ficavam com a agência contratada. O restante do valor liberado voltava para o governo, segundo os promotores.

Bandeira contou que trabalhava para Borges desde julho de 2004 e cerca de três meses após sua admissão, o empresário o informou que estava adquirindo a Apoio Comunicação.

Borges teria alegado ¿problemas na Justiça¿ e pedido a Bandeira que autorizasse o uso de seu nome para registrar a Apoio. ¿Depois, (Borges) exigiu que eu outorgasse procuração para ele administrar a empresa. A Apoio emitia notas sem prestar serviço nenhum. Ele (Borges) vendia nota fiscal.¿

Bandeira afirmou que ¿por várias vezes¿ viu o empresário levar material do governo para a gráfica. ¿Eu perguntava se era para imprimir, ele dizia que não, que era somente para tirar a nota fiscal. Uma vez ligaram do governo e pediram a ele que levasse uma quantia em dinheiro até uma cidade do interior.¿

Borges não foi localizado para falar sobre a denúncia.

Newley Amarilla, advogado de Zeca, disse que o Ministério Público não deu ao ex-governador oportunidade para se manifestar. ¿Não há um único indício contra Zeca. Seus dois mandatos foram marcados por atos absolutamente corretos.¿

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