Título: Agora, a China quer o mercado latino de aço
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2007, Economia, p. B6

Importações de aço da região dobram e siderúrgicas latino-americanas fazem alerta contra avanço chinês

Depois de invadir o mercado de produtos de consumo, os chineses começam a concorrer com a indústria de base na América Latina. As siderúrgicas latino americanas, incluindo a brasileira, lançaram na semana passada um alerta sobre o risco de os chineses ocuparem rapidamente o mercado do aço na região. Pelos dados compilados de importação em agosto, isso já pode ter começado.

Relatório do Instituto Latino Americano de Ferro e Aço (Ilafa) mostra que em agosto a China exportou para a América Latina 315,9 mil toneladas de aço, mais do que o dobro do volume que ingressou na região em julho, 149,4 mil toneladas.

A principal preocupação do instituto decorre do fato de que, no mesmo período, as exportações chinesas para o mundo caíram de 5,94 milhões para 5,16 milhões de toneladas.

'É preocupante. A China deixou a condição de importadora de aço e se tornou nos últimos anos uma grande exportadora. E o mais sério é que o governo chinês está ciente do problema, mas mesmo com medidas que desestimulam a exportação não têm tido sucesso', diz o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo Lopes.

Em três anos, a China deixou de ser uma importadora líquida de aço para ser uma exportadora. 'Ela importava 35 milhões de toneladas há três anos. Neste ano, o país deve exportar 55 milhões de toneladas. Uma inversão de 90 milhões de toneladas', explica.

Os efeitos no Brasil já podem ser sentidos. A Mercotubos, uma das quatro maiores distribuidoras de tubos de aço no Brasil, retardou investimentos nos últimos dois anos devido ao avanço dos chineses no mercado brasileiro. 'Os importadores ofertam produtos a preços muito baixos. Nossa oferta é de US$ 2,50 o quilo do tubo de aço, os revendedores chineses oferecem a US$ 1', diz Murilo Cavaleiro, gerente comercial da Mercotubos. O novo ciclo de investimentos pelo qual passa o País tem garantido a sobrevivência dos distribuidores de siderúrgicas locais. 'Com tanta demanda, deveríamos estar num movimento impressionante de crescimento, mas com a concorrência com os produtos chineses não é o que ocorre', explica.

Na semana passada, o Ilafa lançou um alerta para que as associações siderúrgicas dos países latino americanos se mobilizassem junto aos governos de cada país. O objetivo é encontrar alguma forma de frear a invasão chinesa no mercado siderúrgico. Fora mercados específicos, o tamanho da invasão chinesa no Brasil ainda é modesta. Segundo o IBS, de janeiro a setembro a importação brasileira de produtos siderúrgicos chineses foi de 300 mil toneladas.

CABO DE GUERRA

O avanço chinês preocupa, mas o IBS tenta reverter uma derrota que teve em 2005, quando, por pressão da indústria automotiva, o governo reduziu a alíquota de importação de 15 produtos siderúrgicos.

'Queremos que até o fim do ano, o governo reveja esta decisão e volte a alíquota para os 12%, conforme previsto na Tarifa Externa Comum (TEC)', diz. Lopes, do IBS, alega que o Brasil não pode se dar ao luxo de ficar desprotegido na questão do aço enquanto todo o mundo se protege dos chineses.

Mas essa não é uma posição de consenso. O setor de máquinas rodoviárias, um dos segmentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), já anunciou que pretende pedir ao governo que não só mantenha a alíquota de zero por cento para os 15 produtos, como amplie a lista para a chapa grossa, matéria-prima para a produção de máquinas pesadas.

O setor diz que a valorização do real tem comprometido a competitividade nacional e que a redução das alíquotas de importação desse produto poderiam segurar o preço do aço nacional. A Usiminas é a maior fornecedora desse tipo de chapa.

NÚMEROS DO AÇO

55 milhões de toneladas será a exportação de líquida de aço da China em 2007, mesmo com medidas de restrição do governo

315 mil toneladas foi o volume de aço que a América Latina importou da China no mês de agosto, o dobro de julho

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