Título: Análise Petróleo pode subir mais
Autor: Tamer, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Economia, p. B12

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciou um aumento da produção e o preço do petróleo saltou para US$ 80 e pode subir ainda mais. Estranho? Não. É que os 500 mil barris/dia aprovados pelo cartel não recompõem sequer o corte realizado no início do ano.

Mesmo com esse 'generoso' aumento, os países árabes da Opep, que representam 90% do cartel, estão produzindo abaixo do nível de janeiro e fevereiro. Além disso, o aumento oferecido ontem só entrará em vigor em 1º de novembro.

O analista Jefferey Currie, da Goldman Sachs, disse, de Londres: 'Muito pouco, muito tarde'.

Até lá, a tendência do preço é continuar subindo, pois logo mais as empresas do Ocidente começarão a recompor os estoques para o inverno no Hemisfério Norte. E está aberto o caminho para a barreira de US$ 90, de US$ 100. Só que nem os países muçulmanos da Opep, que dominam o cartel, queriam acalmar o mercado, nem estão com pressa. Pelo que se vê não estão ainda satisfeitos com a alta de apenas 28% neste ano. Querem mais. Acham que têm direito a isso.

A OPEP ESTÁ PREOCUPADA.. .

Sem nenhum acanhamento e revelando enorme cinismo, o presidente da Opep, Mohamed Al Hami, afirma no comunicado oficial que o cartel está atento aos desdobramentos da crise do crédito imobiliário sobre o crescimento econômico. Sem dúvida, uma grande novidade que não é nova, pois vem sempre palavreando isso. Por sua vez, o secretário-geral, Abdalla Salem El-Badri, acrescenta também muito sério que eles estão 'atentos e preocupados e, por isso, aumentaram a produção'. Taça mundial do cinismo. O que estamos vendo é que os países da Opep estão pouco ligando para o risco de uma eventual recessão mundial, puxando o preço do petróleo a níveis jamais imaginados num mundo que luta para evitar o pior.

Mas, se houver recessão, eles também perdem, certo? Não é bem assim. Eles podem continuar aumentando os preços ainda pelo menos até o fim do ano, pois a economia mundial está mais resistente às pressões do preço; como temos dito, vem suportando bem, sem maior inflação. Isso ainda por mais alguns meses. Até dezembro, então, quando haverá a próxima reunião da Opep. No fundo, eles pretendem elevar em pelo menos mais US$ 200 bilhões os lucros de suas empresas estatais, lucros que foram de US$ 650 bilhões no ano passado. E depois de dezembro? Eles não têm pressa; a Opep continuará mantendo o mundo refém do seu petróleo, pois fornece 40% do que ele consome, não queimando e desperdiçando nos seus carros poderosos, mas movimentando sua indústria, sua agricultura, sua economia, enfim.

UMA FARSA

No fundo, essa reunião da Opep foi apenas uma farsa dos monarcas e ditadores árabes, que confirmam não terem a menor sensibilidade em relação ao resto do mundo, principalmente quando este estremece diante do fantasma da recessão.

A Opep gosta sempre de lembrar que os US$ 80 estão abaixo do preço na segunda crise de 1979, provocada ela mesma por mais um fanatismo, o do Irã, após a ascensão de Khomeini. Ajustam para valores atuais, descontando a inflação, e dizem que o preço de 1979 seria de US$ 109... E parece ser essa a meta, pois já se fala com mais freqüência de um barril de petróleo a US$ 100.

ARGUMENTOS FALACIOSOS

Ontem, eles apresentavam ainda argumentos falsos para não se responsabilizarem pela explosão do preço: as tensões no Irã e o início da estação dos furacões. Pura invenção. Nas últimas semanas, não aumentou o grau de loucura dos aiatolás nucleares nem há previsões mais graves no Golfo do México. Os preços foram elevados, sim, pela decisão da Opep de não fazer nada, mas dizendo que estava fazendo tudo. Um tudo que é 500 mil barris por dia, mas só a partir de 1º de novembro.

O LUCRO É JUSTO, SIM, MAS ...

Sempre que tratamos desse assunto recebemos e-mails de protesto, geralmente de leitores árabes (ou descendentes, como eu). Por que o senhor só é contra o lucro quando se trata do petróleo? Afinal, os países árabes e muçulmanos da Opep estão agindo dentro das regras do mercado.

Não somos contra o lucro numa economia de livre mercado. Mas ninguém pode aceitar que o gerador desse lucro, o petróleo, seja usado por um grupo de países política e religiosamente intencionados, em detrimento de toda a economia mundial, de cujo crescimento depende a redução da pobreza. Nenhum país ou grupo de países reunidos em cartel tem o direito de controlar o preço de uma matéria-prima vital para a humanidade, da qual depende o crescimento econômico e a superação da pobreza mundial. ( Mesmo quando estão consumindo petróleo até de forma aleatória os países ricos estão gerando emprego e riqueza.) Nenhum grupo de países populacionalmente minoritário tem o direito de violentar 90% da população mundial.

Somente somos contra o lucro quando ele é obtido para benefício de poucos em detrimento de toda a humanidade, que irá sofrer novamente, se os países ricos da Opep elevarem o preço do petróleo a mais de US$ 100.

E esta é uma possibilidade muito séria, pois está faltando petróleo para alimentar a vacilante economia mundial.