Título: Brasil já envia mais eletricidade à Argentina
Autor: Pereira, Renée e Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Economia, p. B12

A partir de hoje, sistema cede 800 MW ao país vizinho; volume atingirá 1.030 MW médios no sábado

O pedido de ajuda feito pelo presidente da Argentina, Néstor Kirchner, semana passada, para amenizar a crise energética, já começou a ser atendido pelo Brasil. Desde a zero hora de hoje, o sistema brasileiro está enviando cerca de 800 megawatts (MW) médios para o país vizinho. Até sábado, o volume de exportação subirá para 1.030 MW médios (o máximo permitido pelo sistema de transmissão), suficiente para abastecer uma cidade como Curitiba ou Goiânia.

Os detalhes da operação foram definidos ontem em reunião no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Participaram do encontro representantes dos governos brasileiro e argentino, da Petrobrás, Cien e Cammesa, a secretaria argentina de energia. Antes disso, no entanto, uma comitiva brasileira desembarcou na Argentina no sábado para avaliar as bases do acordo. O grupo era formado pelo ONS, Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Na reunião de ontem, ficou definido que a Petrobrás vai fazer a substituição do combustível das usinas movidas a gás natural para óleo diesel ou gás liquefeito de petróleo (GLP). O custo, cuja média ponderada pode ficar entre R$ 200 e R$ 250, será repassado ao preço da exportação, afirmou o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp. A energia exportada será produzida pelas usinas Araucária (gás), J. Lacerda (carvão), Charqueadas (carvão), Igarapé (óleo) e Termorio (gás).

Para dar maior margem de segurança, diz Chipp, o ONS vai trabalhar com a disponibilidade também das usinas Cuiabá, Piratininga, William Arjona e Santa Cruz. Todas serão movidas a óleo diesel. 'Tivemos a orientação do presidente Lula de ter solidariedade com o país vizinho. Esperamos que se estabeleça no Mercosul esse intercâmbio e integração comercial.' O envio de energia do Brasil para a Argentina vem sendo feito desde março. Na época, o volume era de 300 MW médios, no início de junho subiu para 700 MW médios e agora para 1.030 MW médios.

A exportação de energia do Brasil deve amenizar um pouco a situação do país, que deverá passar por uma intensa onda de frio a partir de sábado. Isso deve aumentar o consumo residencial, fato que agravará a crise energética na Argentina. Segundo o jornal La Nación, o governo teria um plano de cortar a energia para os consumidores residenciais. No entanto, Kirchner, poucas horas depois, negou enfaticamente que pense em aplicar racionamento às residências.

Diversos governos provinciais pediram a Kirchner permissão para realizar cortes de energia aos consumidores residenciais nos horários da 'siesta'. Essa economia seria direcionada às indústrias. A onda de frio também coincidirá com a paralisação - prevista para meados da semana que vem - de três hidrelétricas da Patagônia, as de Alicurá, Piedra del Aguila e El Chocón, responsáveis por 16% da energia argentina.