Título: Inventário na reitoria: computadores foram retirados e empilhados em sala
Autor: Sant¿Anna, Emilio e Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Vida&, p. A26

Começou ontem o inventário dos danos ao patrimônio público e a documentos acadêmicos provocados pelos alunos que ocuparam por 50 dias a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. O prédio foi liberado pelos estudantes na sexta-feira, após acordo com a reitora Suely Vilela. Três peritos da Polícia Científica entraram na reitoria às 9h45, lacraram todas as dependências dos seis andares do edifício e começaram as perícias. Ninguém mais estava autorizado a circular pelo local.

À noite a segurança da USP permitiu que a imprensa visitasse o térreo da reitoria. A Sala do Cerimonial foi transformada pelos ocupantes em depósito de equipamentos: são dezenas de computadores, aparelhos de fax, datashow e telefones empilhados. Na recepção do gabinete da reitora havia cadeiras empilhadas, formando barricadas, e faixas com os dizeres: ¿Seus dias de reitores acabaram¿ e ¿Vocês têm dinheiro demais¿. Mas o gabinete de Suely Vilela, trancado, não foi arrombado pelos invasores e estava intacto. Já no gabinete do vice-reitor Franco Maria Lajolo, todas as mesas, sem objetos, foram empurradas para os cantos da sala. O computador do gabinete não estava lá.

No banheiro perto do departamento de pessoal havia um pedaço de CPU, peças espalhadas pelo chão.

Perto da caixa de força, ainda na entrada do edifício administrativo, há sinais de queimado. O coordenador de segurança da Guarda Universitária, Marcos Henrique da Silva, avaliou que os estudantes tenham feito uma fogueira com papéis no local.

No chão e nas mesas, copos, potes de margarina, restos de comida, bitucas de cigarro.

A assessoria de imprensa da USP informou que a reitora Suely Vilela não iria comentar o fim da ocupação neste fim de semana. Entre os alunos também não estava prevista a divulgação de um balanço do movimento desencadeado em 3 de maio. No ¿Blog da Ocupação¿ (ocupacaousp.noblogs.org) textos proclamam a vitória da mobilização estudantil.

Apesar do gesto dos estudantes de lavar a entrada da reitoria, ainda há muita sujeira espalhada - copos e garrafas plásticas, pilhas de pedras e pneus. Na porta do prédio, uma pichação: ¿voltaremos¿.

SÃO CARLOS

Estudantes da USP de São Carlos decidiram ontem desocupar o prédio administrativo da Escola de Engenharia, que tinha sido invadida por cerca de 80 alunos na terça-feira passada. A decisão foi tomada depois de negociação entre estudantes e diretores da universidade.

Em São Carlos, os protestos eram contra a presença de seguranças particulares no campus, contratados pela USP justamente para evitar uma possível ocupação. Os guardas foram dispensados pela direção no noite da última quinta-feira.

Os invasores não serão punidos, a exemplo do que ficou acordado com os alunos da Cidade Universitária.

Funcionários da universidade disseram ontem que ainda haverá novos protestos, mas fora dos prédios administrativos. Desde o dia 15 de março, manifestantes reivindicam a construção de novos alojamentos.

INSPIRAÇÃO

A crise teve origem em decretos publicados pelo governador José Serra (PSDB) no início do ano. Reitores viram neles, a princípio, uma afronta à autonomia universitária. O governador garantiu que, na prática, nada mudaria para as instituições. Os dirigentes aceitaram as explicações e divulgaram em 15 de maio carta afirmando que a autonomia não estava ameaçada. Os alunos não cederam.

A invasão da reitoria em São Paulo serviu de inspiração para várias outras instituições do País. Estudantes das universidades estaduais Paulista (Unesp) e de Campinas (Unicamp) e das federais do Rio (UFRJ), do Pará (UFPA) e de Juiz de Fora (UFJF), por exemplo, também invadiram edifícios.