Título: 'Acusação tem dedo de Sarney'
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2007, Nacional, p. A13

Algemado por sete horas no deslocamento entre São Luís e Brasília e detido durante três dias na Superintendência da Polícia Federal, o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB) disse ontem ao Estado que vê o ¿dedo¿ do senador José Sarney (PMDB-AP) na Operação Navalha. ¿Condenados, com essa coisa jogada aí todos nós fomos. Mas eu quero ter a oportunidade de mostrar a verdade¿, afirmou, durante entrevista no apartamento da filha, em Brasília. ¿Foi vingança do Sarney. O que ele não esperava é que a operação tomasse o vulto que tomou e pegasse o Ministério de Minas e Energia e os aliados dele.¿

A Construtora Guatama, disse, entrou no Maranhão pela mão da ex-governadora Roseana Sarney, hoje senadora. Afirmou, ainda, que as gravações em que ele é citado são anteriores à data da autorização legal da escuta telefônica - a PF nega.

O Estado procurou ontem Sarney e Roseana. Por meio de suas assessorias de imprensa, afirmaram que não iriam ¿bater boca¿ com o ex-governador.

O sr. aparece na investigação da PF como envolvido na Operação Navalha. Qual foi o crime?

Nenhum. O inquérito, inclusive, diz que eu teria ganho um carro Citroën para dar uma obra de pavimentação da BR- 402, no Maranhão. Também falava que várias pessoas estavam indo para o Maranhão preparar um edital para que a Gautama ganhasse a licitação da rodovia e o preço seria superfaturado. O que tivemos na verdade foi o seguinte: a licitação foi aberta em setembro de 2006 e concluída em março de 2007. Foi publicado o resultado no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do Maranhão, portanto, documento público. O resultado foi: 62 firmas compraram o edital, 21 firmas efetivamente participaram da licitação e, portanto, não havia felizmente o primeiro fato, que o edital estaria dirigido para a Gautama ganhar. Segundo, a Gautama foi desclassificada, não ganhou a concorrência.

O sr. afirma que a investigação tem apenas motivação política. Com que objetivo?

Eu não tenho a menor dúvida. Vingança do Sarney. Pela derrota da filha dele Roseana nas eleições de 2006. O que ele não esperava é que a operação tomasse vulto e pegasse o Ministério de Minas e Energia e os aliados dele.

Como explicar as gravações captadas pela PF, em que as suas obras são tema de conversa dos lobistas?

Eu não sabia que estava sendo investigado e, inclusive, as gravações que foram feitas e aqui eu quero fazer uma ressalva. No documento todo que me foi entregue não há participação direta minha. Há terceiros falando sobre isso. A gravação que está no inquérito é de antes da autorização legal da escuta. A autorização legal da escuta da ministra foi dia 29 de novembro de 2006, e as gravações que se referem a mim são de muito antes.

Há alguma denúncia ou irregularidade da Gautama no Maranhão?

A Gautama chegou ao Maranhão no governo de Roseana Sarney. No meu governo as obras não foram tocadas porque houve um problema com o Tribunal de Constas da União, relativo ao edital de licitação. Essas obras estão paradas lá.

Quanto foi liberado no seu governo para a Gautama?

Eu não sei dizer. Governador não paga. Os jornais de hoje dizem que foram gastos R$ 25 milhões em 2006. Acredito que seja isso. O contrato era de 112 pontes e foram feitas 33 pontes. Não tinha dinheiro.

O sr. foi procurado por alguém da empresa Gautama que solicitou ajuda para licitação ou algum tipo de favorecimento?

Não, não. O presidente da empresa esteve comigo.

O sr. conhece Zuleido Veras, então?

Conheço pouco. Não conheço a casa dele, a família. Não é uma amizade e nem há intimidade. Mas ele, como empreiteiro, com contrato no Estado, me procurou para apresentar a empresa e tudo mais. Tanto é que ele não tem nenhum outro contrato. Acho que (o encontro) foi em 2005, 2006, não sei.