Título: A dura realidade dos estados
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2007, Vida&, p. A28

Maranhão: Viver com menos de um salário mínimo não é nada incomum no Maranhão. É lá que está a maior proporção de pessoas com esse nível de renda. Segundo o relatório do Imazon, 28% dos 6,2 milhões de maranhenses vivem com menos de US$ 1 por dia, o que corresponde a cerca de um quarto do salário mínimo. Este é o pior resultado registrado para a Amazônia Legal e supera a média do Nordeste, apesar de esse índice ter caído 18 pontos porcentuais entre 1990 e 2005.

Não é à toa que o Estado tem um dos maiores quinhões do programa Bolsa-Família. Hoje, pelo menos 720 mil famílias dependem dos recursos do programa, o que representa 7% da população atendida neste esforço.

Pará: Caiu no Estado a desigualdade registrada nos últimos 15 anos entre homens e mulheres no acesso à educação, principalmente na faixa entre 15 e 17 anos. Os dois sexos, porém, enfrentam o mesmo problema: baixa escolaridade e alto índice de analfabetismo. O Estado tem cerca de 1 milhão de analfabetos, sobretudo na zona rural.

¿Quero ser alguém na vida, mas para isso preciso estudar muito e é isso que eu quero¿, diz Priscila da Costa e Souza, de 16 anos, que mora na cidade de Moju, a 110 km de Belém. Ela ainda está na 6.ª série do ensino fundamental. ¿Encontrei a rede escolar sucateada e baixa estima entre servidores¿, diz o secretário Estadual de Educação, Mário Cardoso.

Tocantins: Dois anos depois de ter promovido um pacto entre gestores públicos, profissionais de saúde, universidades e sociedade civil para a redução da mortalidade infantil, Tocantins ainda tem dificuldade para atingir as metas. Segundo dados do Pnud, de 2003, a taxa é de 44 óbitos para cada mil nascidos vivos.

Mas, para a gerente de Saúde da Criança, da Secretaria de Saúde, Severina da Silva, os dados podem ser piores. A subnotificação ainda é alta. A atuação das equipes do Programa Saúde da Família poderia ser decisiva para conter o problema. Segundo Severina, todo recém-nascido deveria ser visitado pelo grupo multiprofissional na 1ª semana. ¿O que nem sempre ocorre¿, diz.

Roraima: Há no Estado 526 portadores do vírus HIV, sendo 356 homens e 171 mulheres. Do total, apenas 150 são atendidos todos os meses com o kit aids, formado pelo coquetel de remédios e testes de controle contra o avanço da doença. A Secretaria de Saúde ainda garante atendimento psicológico ao doente e sua família. O governo do Estado, no entanto, não sabe precisar qual a verba empenhada no combate ao avanço da doença.

Os profissionais de saúde garantem que o investimento oficial é feito apenas no combate às doenças oportunistas, causadas pela imunodeficiência, salientando que os remédios para o combate ao HIV são de competência federal e não lhe dizem respeito.

Amapá: Setenta e cinco porcento dos brasileiros deverão ter rede de esgoto e 85% acesso à água tratada até 2015. Mas os amapaenses estão longe de atingir a meta. Apenas 6% do Estado conta com rede de esgoto; 62%, com água tratada. ¿Cem porcento da população deveria contar com o acesso, mas isto é apenas um sonho¿, diz o diretor técnico da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa), engenheiro sanitarista João Batista. ¿Investimento em saneamento básico é muito alto e depende de decisão política. Por isso temos tão pouca gente atendida.¿

Dos 16 municípios do Estado apenas 4 têm rede de esgoto: Macapá, Mazagão, Oiapoque e Amapá. E só na capital o esgoto recebe tratamento.

Amazonas: Aparecendo ao lado do Maranhão na lista dos índices mais altos de mortalidade materna, o Estado também têm de enfrentar doenças endêmicas, como malária, que atingem as mulheres grávidas e acabam levando-as a procurar o posto de saúde antes mesmo de fazer pré-natal.

¿Há todo um procedimento para tratar grávidas com essas doenças, mas infelizmente esbarramos em casos em que o pré-natal é adiado e a malária acaba apressando a procura ao médico', diz o assessor técnico da Secretaria de Saúde de Manaus, Ademar Martins Tavares. Outro problema a ser enfrentado é a gravidez precoce. Segundo a secretaria, cerca de 25% das grávidas nas maternidades de Manaus têm entre 10 e 19 anos.