Título: Governo quer que professor saiba reconhecer superdotados
Autor: Sant'Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2007, Vida&, p. A12

Enxergar as características de um superdotado nem sempre é tarefa das mais fáceis. Por essa razão, a Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação (MEC) , resolveu capacitar professores para identificar estudantes superdotados e estimular suas habilidades. Na semana passada, 50 professores da rede pública de Pernambuco passaram por um ciclo de apresentações, palestras e atualizações metodológicas, em Recife, aprendendo a melhor forma de trabalhar com esses alunos.

Ainda neste semestre estão previstos outros dois cursos, em Macapá e Brasília. A Universidade de Brasília (UnB) fornece o apoio metodológico, e os professores desenvolvem atividades em grupo que às vezes lembram uma festa - uma forma de estimular a criatividade.

'Resolvemos começar pelas regiões Nordeste e Norte pela dificuldade de encontrar lá profissionais capacitados nessa área', diz Kátia Marangon Barbosa, coordenadora de Desenvolvimento da Secretaria de Educação Especial do MEC. 'A escola tem de estar preparada para receber todos os tipos de aluno, e os professores capacitados serão multiplicadores desse conhecimento', diz.

A preocupação do MEC se justifica.De acordo com o Censo Escolar de 2004, o Brasil tem 2.006 superdotados em escolas públicas e particulares. Para os especialistas, esse número não reflete a realidade, e capacitar os educadores pode fazer com que mais crianças com altas habilidades sejam identificadas.

Por não se enquadrar nos padrões de ensino, muitas vezes elas podem ser confundidas com crianças hiperativas ou desinteressadas em aprender. Para a educadora, o estímulo das habilidades do superdotado pode ajudar a incluí-lo no ambiente escolar. 'Quando se fala em superdotado, logo se pensa no estereótipo acadêmico do gênio', diz Kátia. 'Não é nada disso. Pelé é um exemplo de superdotado.'

Isso porque superdotados são pessoas que têm mais facilidade em determinada área - facilidades que podem se manifestar não apenas nas áreas acadêmicas, como física, matemática e química, mas também em atividades artísticas e esportivas.

NÚCLEOS

Em 2006, o governo federal investiu cerca de R$ 2 milhões na criação de centros de apoio a superdotados de escolas públicas. Instalados em todos os Estados, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) trabalham não só com os alunos, mas também com as famílias dessas crianças e com os professores.

'À medida que os professores identificam esses alunos, devem encaminhá-los aos núcleos', explica a psicóloga da UnB Angela Virgolim, ex-presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd) .

Ela diz que a identificação não depende apenas do teste do coeficiente de inteligência (QI). Existem escalas de observação do comportamento que auxiliam nessa função. 'Assim o professor vai percebendo algumas características, como a motivação da criança e a rapidez em aprender', diz.

A psicóloga conta que seu interesse pelo assunto começou com o nascimento de seu filho, hoje com 26 anos. Desde cedo, o garoto apresentava características de uma criança superdotada. Seu rendimento na escola , no entanto, não era bom. A única coisa pela qual se interessava era computação, tanto que aprendeu programação ainda na adolescência. 'Muitas vezes, se exige deles um rendimento que não querem ter, não estão ligando para aquilo.'

OPORTUNIDADE

Esse nunca foi o caso de Rafael Fonteles. Ex- aluno da escola com a melhor classificação no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2006, a Dom Barreto, em Teresina, no Piauí, estudar para ele é um prazer. Tanto que em 2006, com apenas 21 anos, terminou o mestrado em Economia no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio, em apenas um ano, metade do tempo regular.

A graduação, em Matemática, na Universidade Federal do Piauí (UFPI), também durou a metade do tempo previsto: dois anos. Na escola, no entanto, não quis pular nenhuma série. 'Quando você acelera muito, sua maturidade não acompanha', diz.