Título: 37% dos universitários admitem que dirigem após consumir álcool
Autor: Rodrigues, Karine
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Vida&, p. A15

Véspera de carnaval, a preocupação dos pais com a mistura de álcool e direção aumenta. O receio não é exagerado, revela pesquisa divulgada ontem, encomendada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT): todos os 1.034 universitários ouvidos no Rio e em São Paulo, no dias 9 e 10, costumam sair de carro para se divertir. Mas 37% admitiram dirigir quando bebem. O risco, porém, é muito maior, pois mais de 80% dos que evitam assumir o volante aceitam carona de amigos alcoolizados.

Enquanto a família fica tensa, o jovem relaxa, mostra o levantamento, que entrevistou estudantes de 18 a 30 anos, das áreas de biomédicas, humanas e exatas de oito instituições de ensino superior, como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apenas 12% declararam que, ao saírem, combinam que um amigo vai ficar sóbrio para garantir uma volta segura da turma para a casa. Diante disso, não surpreende que 38% dos jovens tenham colegas já envolvidos em colisões por causa do álcool.

'Esperamos que sirva para alertar as pessoas, especialmente agora, com o carnaval, quando muitos abusam da bebida. Que as pessoas se dêem conta do risco a que estão expostas, e que atinge também outros motoristas e os pedestres', alertou o presidente da regional Rio da SBOT, César Fontenelle. O jovem, disse ele, muitas vezes lança mão do álcool para perder a inibição e, com isso, adquirir mais confiança, o que o torna mais propenso a ultrapassar sinais de trânsito e limites de velocidade, uma vez que os reflexos são reduzidos pela bebida.

PROBABILIDADE

Segundo Fontenelle, quando a pessoa ultrapassa minimamente o limite permitido por lei, que é de 0,6 grama de álcool por litro de sangue, a chance de sofrer um acidente dobra. A concentração, diz ele, equivale a três copos de chope. Se tomar cinco copos, a possibilidade triplica, e se tomar dez, a probabilidade aumenta em 20 vezes.

'A gente alerta que não é para beber, que os acidentes acontecem, mas acham que não vai acontecer com eles. É um comportamento típico do jovem ser mais atirado, mais destemido, mas se esquece de que os reflexos são prejudicados pela bebida. Se algo ocorrer repentinamente, eles não terão a mesma chance daqueles que dirigem sóbrios', disse o médico, chamando atenção para as tragédias no trânsito, que são cada vez mais freqüentes. Em setembro do ano passado, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, cinco adolescentes entre 16 e 22 anos morreram após um acidente de carro. Exames apontaram que quatro deles haviam bebido - o motorista tinha uma quantidade de álcool no sangue duas vezes maior do que a aceita pela legislação.

O grupo havia saído de uma festa numa boate, por volta das 5h30, e pouco mais de 2 quilômetros depois, o motorista perdeu o controle do veículo, que bateu no canteiro central, capotou e se chocou contra uma árvore. O carro ficou destruído.

Com uma amostra formada por 61% de homens e 39% de mulheres, a pesquisa avaliou também a adesão ao uso do cinto de segurança. Embora seja uma prática de 96% dos motoristas, e 93% dos caronas, só 11% fazem uso do acessório quando estão no banco traseiro.

AÇÕES NO CARNAVAL

Estudante de Engenharia de Alimentos, Victor Vilar de Oliveira, de 22 anos, garante que não pega em chave de carro quando decide beber. E diz que tem um amigo com quem costuma revezar a direção. 'Há 15 dias, fui para uma festa e queria beber, mas ninguém que estava comigo dirigia. Fiquei o tempo inteiro bebendo coquetel sem álcool', contou ontem, na pausa de um chope gelado, em um bar do centro do Rio, próximo à faculdade.

No passado, porém, Oliveira já foi descuidado. 'Quando era mais novo, não dirigia, mas cansei de ir embora de carona com algum colega que estava bêbado.'

Para tentar conscientizar a população sobre os riscos da associação entre álcool e direção, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia vai além da pesquisa. Amanhã à noite, às 21 horas, vai se integrar à equipe de técnicos do Ministério dos Transportes, responsável pelo projeto Amigo da Vez.

Eles vão percorrer bares da orla de Copacabana, na zona sul do Rio, para falar sobre a importância da prevenção. 'Vamos abordar as pessoas, perguntando em cada mesa: quem é o amigo da vez? Ou seja, quem é o amigo que vai deixar de beber para levar os outros, com responsabilidade, para casa? Precisamos tentar', afirmou.