Título: Antigos inimigos ajudam Roseana na saga dos Sarney
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Nacional, p. A16

A candidata do PFL ao governo do Maranhão, Roseana Sarney, fez uma pausa entre eventos em cinco cidades do Estado, na tarde de quarta-feira, para fazer massagem com uma fisioterapeuta que manteve por perto ao longo da campanha. Depois de pedir votos nos municípios de Estreito e Porto Franco, correu até a casa de um amigo em Imperatriz e tentou amenizar uma dor nas costas, uma das seqüelas das 18 intervenções cirúrgicas pelas quais já passou.

Na sala ao lado, o senador Epitácio Cafeteira, candidato ao Senado pelo PTB, almoçava carne-de-sol, ao lado de lideranças locais, e explicava como se converteu em aliado da família Sarney após quase duas décadas de oposição raivosa. O senador de 82 anos e é autor de uma frase sobre ela que ficou conhecida: 'Essa moça é muito raivosa. Só tem duas amigas: a rainha de copas e a viúva Clicquot'.

No rádio dos carros estacionados na porta, o programa eleitoral gratuito mostrava os adversários de Roseana aproveitando todas as deixas para pôr em seu nome apostos como 'filha da oligarquia', 'princesinha do Sarney' ou 'guerreira de butique'.

Roseana tenta assumir, pela terceira vez, o governo do Maranhão. Na tentativa de segurar a dianteira folgada que manteve ao longo da disputa, ela administrou uma saúde frágil, que a faz ter dores generalizadas e tonturas. 'Não me queixo. É bem cansativo, mas não me permito ter pena de mim e nunca usei minha doença na campanha', disse ela ao Estado.

Para o fato de aparecer de mãos dadas com inimigos históricos de sua família, sua explicação é: 'Em política a gente precisa juntar o máximo de pessoas ao nosso redor. Por conta da minha religiosidade e dos problemas de saúde, aprendi a me concentrar no que interessa'. Também procurou encontrar formas de rebater a evidência de que pertence ao mais longevo clã político do país: 'Oligarquia? É claro que ter o nome do meu pai ajudou, mas quem não tem consistência não dura muito nessa área'.

E mergulhou em eventos no entorno dos 20 maiores municípios do interior do Estado, onde está 50% do eleitorado maranhense - mais da metade deles nas zonas rurais. 'Fiz uns oito comícios por dia. No Maranhão, não existe outra maneira de fazer campanha. Tem que ir nas zonas rurais, falar direto para as pessoas'.

Roseana é a candidata dos maranhenses menos instruídos, dos mais pobres, dos moradores das regiões mais afastadas dos centros urbanos. De acordo com a última pesquisa Ibope, feita em setembro, tinha 60% dos votos e vitória garantida no primeiro turno sobre o candidato mais próximo, Jackon Lago (PDT), que aparecia com 25% de preferência de um eleitorado instruído, rico e habitante da capital.

Ontem, um instituto de pesquisa local, o Constat Consultores Estatístiscos, cravou que haverá segundo turno e mostrou Roseane com 48,02% das intenções de voto; Jackson Lago com 24,03%; Edson Vidigal - o ex-ministro do STJ indicado por José Sarney e agora adversário da família pelo PSB -, com 15,26% . O tucano Anderson Lago aparece com 2,91% e João Bentivi, do Prona, com 1,02%. Entre uma pesquisa e outra, a senadora tentou até o fim liquidar a disputa já na primeira rodada.

Do ponto de vista físico, a romaria feita por Roseana Sarney para voltar ao poder é quase um épico. Aos 53 anos, mãe de uma filha adotiva, Rafaela, e avó de Fernanda, de 6 anos, e Rafael, de 4, a senadora enfrenta sua primeira campanha sem apoio da máquina estatal. O governador José Reinaldo Tavares foi vice de Roseana e se elegeu em 2002 com ajuda dos Sarney, mas rompeu com a família depois de uma briga protagonizada por sua ex-mulher, Alexandra Tavares. Agora, apóia Jackson Lago.

A situação de Roseana não chega a ser difícil. Além de aliados políticos de peso, a família Sarney é dona da TV Mirante, afiliada da Globo no Maranhão, que chega a 90% dos 217 municípios do Estado, de emissoras de rádio e do maior jornal da região, O Estado do Maranhão. Ainda assim, a situação de Roseana na capital, onde estão 18% dos votos, é apertada. Ela empata em intenções de voto com Jackson Lago, com 37% para ela e 38% para ele.

Por toda São Luís, há cartazes de Roseana ao lado do cunhado e candidato a deputado federal Ricardo Murad, o irmão intempestivo de seu marido, Jorge Murad. Ricardo passou anos rompido com a família e chegou a ser comparado a Pedro Collor por causa do ânimo para denunciar os negócios do irmão e falar mal de Roseana.