Título: Aécio fala em descentralizar PSDB, mas pode estar de saída
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2006, Nacional, p. A7

Uma frase ambígua do governador Aécio Neves, de Minas Gerais, colocou mais lenha na fogueira tucana, depois que ele criticou a carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e recebeu o troco. Ontem, ao ser indagado se sairá do PSDB, Aécio disse acreditar 'sinceramente' que seu caminho é continuar no partido, mas antes admitiu que 'tudo pode acontecer'. Ele admitiu o DNA paulista do PSDB, mas destacou: 'Se quiser ter um projeto nacional de longo prazo, tem de se transformar em um partido nacional.'

Depois de Aécio opinar que sua carta aos tucanos fora uma ação que 'mais desagrega do que agrega', FHC rebateu anteontem: disse ter receio de que o governador se transforme 'num inocente útil' do PT. Ontem, Aécio desconversou, dizendo que não lera a resposta. Com a ressalva de que tem 'enorme respeito' pelo ex-presidente, o governador reforçou a sua fala da véspera, dizendo que 'polêmicas não ajudam e não devem ser estimuladas'.

Aécio afirmou ter 'profunda identificação' com o PSDB e lembrou que estava entre os fundadores do partido, em 1988. Prometeu continuar na legenda: 'Enquanto eu achar que é possível o partido desconcentrar-se e, por mais que seja forte em São Paulo, continuar sendo a melhor alternativa partidária do País, é nele que eu tenho que militar', arrematou Aécio.

Ele previu, porém, que o PSDB 'vai passar por um processo de nacionalização, de descentralização, em termos de lideranças e atuação partidária propriamente dita'. Ele considerou natural que as principais lideranças sejam de São Paulo, mas disse que 'o País pede uma nova correlação de forças, um reequilíbrio nacional'. Aduziu que não quer guerra e sua maior preocupação agora é ajudar Geraldo Alckmin a chegar ao segundo turno das eleições.

Sua crítica não se restringiu ao PSDB: Aécio disse que os atuais partidos são 'muito pouco representativos' e não funcionam como canais de transmissão com a sociedade.

Há tempos, rumores dão conta de que, após as eleições, Aécio poderia se transferir para o PMDB, no bojo de uma articulação para concorrer à Presidência em 2010, se o presidente Lula se reeleger. Assim Aécio evitaria o confronto com José Serra dentro do PSDB e ganharia o apoio explícito de Lula e do PT para enfrentá-lo nas urnas.

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